Frank Ocean… com 24 anos este cantor considera-se um storyteller… de facto, assim o é! Bem como talentoso, criativo, inteligente, inovador,
destemido… MÚSICO com letras maiúsculas!
Frank conta
histórias, fala das relações humanas e do que estas têm de melhor e de pior. Não teme ferir susceptibilidades e fala abertamente nas suas músicas de
temas como amor, espiritualidade, sexo, preconceito e drogas, entre outras
coisas. Muito pouco convencional, um
R&B com sonoridades diferentes daquelas a que estamos habituados, canções
com personalidade, conteúdo… as suas músicas levam-nos a ambientes cheios de
luz, bem como aos sítios mais sombrios. Este músico primeiro surpreendeu-me, depois
encantou-me, agora prendeu-me e por fim, conquistou-me!
O meu vício por Frank Ocean começou com esta música, há
alguns meses atrás. Na altura, o mesmo apenas tinha editado uma mixtape - “Nostalgia, Ultra”, mas foi mais do que
suficiente para perceber o enorme potencial que este jovem cantor tinha.
Desde então, tenho acompanhado o seu trabalho e, efectivamente, a minha intuição não
me enganou! O seu mais recente e primeiro álbum, “Channel Orange”, assim o demonstra. Acabei de ouvi-lo por inteiro
há uns minutos atrás e penso que será, simplesmente, um dos melhores álbuns de
R&B do ano... de uma criatividade tremenda!
Mas comecemos por apresentar Frank Ocean.
Christopher Francis
Ocean é um cantor de R&B, nascido em New Orleans (EUA), que iniciou
a sua carreira no meio musical como escritor e compositor, tornando-se
conhecido por escrever canções para artistas famosos como John Legend, Beyoncé
e Justin Bieber.
Em 2009 integrou no grupo de Hip Hop de Los Angeles - Odd
Future, liderado pelo rapper e produtor Tylor, The Creator, mas é em 2011 que
surge o seu primeiro trabalho a solo, a mixtape “Nostalgia, Ultra”. Este trabalho apresenta temas originais de Frank, bem
como, temas criados a partir de samples. Tal é o caso de “Strawberry Swing” (Coldplay), “Nature Feels” (MGMT) e “American Wedding” (Eagles).
Esta mixtape foi altamente aclamada pela crítica. Como o
nome indica, transmite-nos nostalgia e mostra mesmo
um lado dark e decadente, com músicas extremamente bem conseguidas e com
sonoridades inovadoras, nas quais Frank recorre com frequência ao teclado e a
beats electrónicos. Ao longo da mixtape são frequentes os interludes com
referência a videojogos míticos (Street Fighter e Soulcalibur, por exemplo) e
sons de rádio cassetes, com o intuito de transmitir exactamente isso, nostalgia.
Os temas são fortes e controversos. Destaco por exemplo o
seu single “Swing Good”, uma canção referente ao suicídio, na qual Frank faz o seu próprio luto (I've got this black suit on, roaming around like I’m ready for a funeral), conduzindo um carro a alta velocidade em direção ao abismo, fruto de um
desgosto amoroso.
No tema “We All Try” está bastante explícita a sua posição
contra a homofobia (de mencionar que Frank revelou recentemente a sua bissexualidade). Esta música reflecte claramente a sua opinião a favor
da união entre casais homosexuais. Na mesma, há também referência ao tema
do aborto, que é defendido pelo cantor como sendo uma escolha legítima por parte de
cada mulher.
“I believe a woman's
temple
gives her the right to choose
but baby don't abort
I believe that marriage isn't
between a man & woman
but between love and love
and I believe you when you say that
you've lost all faith
but you must believe in something”
gives her the right to choose
but baby don't abort
I believe that marriage isn't
between a man & woman
but between love and love
and I believe you when you say that
you've lost all faith
but you must believe in something”
“Nostalgia, Ultra” despertou igualmente a curiosidade de músicos
como Jay-Z e Kanye West, que convidaram Frank para trabalhar no seu álbum
conjunto, “Watch the Throne”. Frank co-escreveu e participou em dois
temas do mesmo - "No Church in the
Wild" e "Made in America".
Mas é com “Channel
Orange” que Frank Ocean afirma o seu talento como cantor e compositor de forma inquestionável. Um álbum de neo-soul
com uma produção excelente, sonoridades que se misturam novamente com o
electrónico, roçando por vezes o psicadélico. O recurso ao teclado é novamente
utilizado, bem como, os interludes, desta vez inspirados em filmes, incluindo
diálogos, portas de carros, toques de rádio, ondas, zapping televisivo e
orgasmos. O objectivo mantém-se - Frank enquanto contador histórias.
Ao contrário da sua primeira mixtape, onde Frank aborda temas
controversos como homossexualidade, aborto e suicídio, este álbum é mais
introspectivo, concentrando-se mais em si e na forma como Frank questiona a
vida. O mesmo fala de drogas e sexo, de como é fácil e atractivo submergir-se
nesse mundo, mas também demonstra meditação acerca da sua existência e de como o
amor está no centro de tudo. As suas músicas demonstram alguma celebração da
vida, mas não falam de felicidade e sim de inquietude, da incerteza acerca dos
passos a tomar e do caminho a seguir, mesmo quando já se tem tudo.
O primeiro single do álbum é a já conhecida “Thinking About
You”, uma canção que encontra-se disponível na internet há cerca de um ano. Adoro a
batida desta música e o contraste com a suavidade da voz de Frank. Acho-a linda, bem como a sua letra.
“Sweet Life” e “Super Rich Kids” são descritas por Frank como "the black Beverly Hills" e "domesticated paradise". Referem-se às
pessoas ricas como sendo sedutoras e perigosas, com estilos de vida frios e
decadentes. A primeira foi co-escrita e co-produzida por Pharrell Williams
(N.E.R.D.) e há quem diga que o som das
suas teclas recorda Stevie Wonder. A segunda faz lembrar a música de Elton
John “Bennie and the Jets”, penso que
a sua inspiração partiu daí.
"Pilot
Jones" é introduzida por André 3000 (OutKast)
mas foi em “Pink Matter” que este me
arrebatou por completo, com o seu solo final de guitarra. Uma música que fala de desejo... hipnotizante,
perturbadoramente deliciosa…
Em "Crack
Rock" o tema são as drogas, corrupção e violência, mas é a música
seguinte que eu quero apresentar-vos - “Pyramids”... simplesmente genial! Dez
minutos onde ouvimos uma confusão de beats diferentes em colapso, que vão do pop ao funk, com um slow jam pelo meio (Damn!)… tudo extremamente bem alinhado! Conta
com a colaboração do seu amigo Tylor, The Creator.
Por fim,“White” apresenta-nos
um solo de guitarra fantástico, generosamente oferecido por John Mayer e em “Bad Religion” Frank volta a expor-nos de forma ainda mais
transparente toda a sua inquietude face à indefinição da sua sexualidade - It's a bad religion to be in love with
someone who could never love you / And only bad religion could have me feeling
the way I do. Contudo, esta música é mais do que isso, a sonoridade
alusiva à Igreja é notada, ouve-se um orgão e o bater de palmas e há quem
associe este tema também à luta antiga entre
Religião/Luxuria, onde a Igreja sempre “condenou” a soul music proveniente do gospel.
Bem, poderia continuar a falar-vos de Frank Ocean, pois há
muito para contar acerca deste jovem cantor e das histórias das suas músicas...
mas ninguém melhor do que o próprio para fazê-lo! Deixo-vos a entrevista aquando da
sua eleição para o segundo lugar do “BBC Sounds of 2012”.
Viciem-se em Frank Ocean, vale bem a pena.
Vou ser sincera..gostei, mas ficou abaixo da expectativa..pelo que escreves (e como já te conheço, percebi logo que o seu trabalho te diz muito) pensei que ia gostar mais..mas acho que é mm a voz..porque tem voz de miudo:)
ResponderEliminarÉ perfeitamente normal que gostes mais ou menos (tu e qualquer outra pessoa que leia este Blog) dos artistas que aqui falo e dos seus respectivos trabalhos. Afinal de contas, o meu gosto (como qualquer outro) é subjectivo. É por isso que procuro abranger um leque variado de artistas e músicas, dentro dos mesmos estilos. Para agradar o maior número de gostos! :) Frank é muito único, muito autêntico no seu trabalho, percebo que não entre facilmente nos ouvidos de todos à primeira pois as suas sonoridades são diferentes das convencionais no R&B... deve ter sido talvez por isso que me conquistou! ;)
EliminarProvavelmente deves saber, mas podia ter constado neste artigo. O Frank Ocean fez esta música (http://www.youtube.com/watch?v=lyZGFsWKu7k) para o último filme do Tarantino (Django Unchained).
ResponderEliminarO Tarantino, na altura, disse "o Frank Ocean escreveu uma balada fantástica que era verdadeiramente adorável e poética em todos os sentidos, apenas não havia uma cena para ela. Poderia tê-la incluído rapidamente apenas para a ter, mas não foi por isso que ele a escreveu e não era essa a sua intenção, portanto não quis enfraquecer o seu esforço. Mas a canção é fantástica e quando o Frank decidir torná-la pública as pessoas vão perceber isso."
Quando a tornou pública o Frank disse que "o Django estava doente sem isto"
João, por acaso não sabia. Contudo, dificilmente poderia constar neste artigo uma vez que, ele foi escrito há precisamente um ano! :)
EliminarMuito obrigada por me dares a conhecer esta história e este tema! Este jovem músico tem vindo a surpreender-me, constantemente, pela positiva! E, embora entenda o que o Tarantino quis dizer, ouvi a banda sonora do Django (que por sinal também é muito boa) e acho que esta música teria encaixado lá na perfeição!
Mais uma vez, muito obrigada pela partilha! :)