sexta-feira, 27 de julho de 2018

Jessie Ware: uma noite encantada, no EDP Cool Jazz



Foi com algum receio que ontem saí de casa, a temer pelo frio que geralmente é um habitué nos jardins do EDP Cool Jazz, nestas noites de Verão. Contudo, a expectativa era bem grande para receber aquela voz britânica que já por 2 vezes cancelou a sua vinda ao nosso país, primeiro em 2015 no NOS Alive e depois em 2017 no Vodafone Mexefest. 

Costuma-se dizer que à terceira é de vez, e assim foi. Depois de uma primeira parte muito bem servida a cargo do australiano Jordan Rakei, Jessie Ware sobe ao palco elegante, bonita e segura de si como ela só, dando início ao concerto de forma intimista com 'Sam', tema que, curiosamente, fecha o seu último trabalho, “Glasshouse”, de 2017.

Contrariando o meu receio e aumentando as minha expectativa, a noite caíra perfeita nos jardins do Parque Marechal Carmona, sem vestígios de vento ou de frio que pudessem arrefecer-nos os ânimos. Um cenário idílico e romântico conjugou-se em nosso redor, não passando despercebido a ninguém, inclusive à própria cantora, comentando com a sua banda que aquele seria talvez o lugar mais bonito em que tocaram este ano.

Simpática e descontraída, Jessie foi-nos conquistando ao longo de todo o concerto, não só porque a sua música é verdadeiramente boa e fácil de ouvir (no melhor sentido da palavra), mas também pela sua voz singular, que soava límpida e cristalina aos nossos ouvidos. Um misto de soul e de eletrónica, de força e de doçura, de glamour e de simplicidade, que nos aqueceu a alma, numa noite que de fria estava cada vez mais distante.

O reportório, esse, foi vasto, variado e para todos os gostos, bem como os ritmos que pautaram a noite. Houve momentos de silêncio e de contemplação, e outros em que cantámos juntos, abanando os nossos corpos, as nossas mãos. 

O protagonista da noite foi o seu último álbum, do qual pudemos ouvir os seus temas mais badalados como ‘Selfish Love’, ‘Midnight’ e ‘Alone’, mas também algumas canções dos seus anteriores trabalhos nos alegraram a noite. Foi o caso de ‘Champagne Kisses’, ‘Say You Love Me’ e ‘Kind of… Sometimes… Maybe’ de ‘Tough Love’ (2014), e de ‘Running’ e ‘If You’re Never Gonna Move’, do seu primeiro álbum, ‘Devotion’ (2012).

A somar a este bem recheado set, tivemos ainda direito a uma versão à capela de 'What You Won't Do for Love' (original de Bobby Caldwell) e ao maravilhoso e sincero ‘Wildest Moments’ no final. 

O que ficou a faltar? Talvez um encore, que suavizasse um bocadinho a despedida agridoce, nesta noite especial. À parte disso, partimos felizes e serenos, e certamente com boas recordações para guardar.

Estava de facto uma noite maravilhosa… Jessie, esperemos que desta vez não hesites tanto em regressar.


Setlist:
01. Sam
02. Your Domino
03. Running
04. Champagne Kisses
05. Thinking About You
06. Alone
07. Selfish Love
08. No to Love
09. Kind of…Sometimes…Maybe
10. Something Inside
11. What You Won't Do for Love
12. If You're Never Gonna Move
13. Last of the True Believers
14. Midnight
15. Want Your Feeling
16. Say You Love Me
17. Wildest Moments

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Anderson Paak & The Free Nationals no SBSR - YES Lawd!



YES Lawd! Já há muito que ansiava por um concerto de Anderson Paak e finalmente aconteceu!

Há cerca de um ano fiquei com pena de não poder vê-lo na abertura do concerto de Bruno Mars (a sua estreia em Portugal, também no palco do Altice Arena), mas decidi esperar por um merecido concerto a solo, o qual proporcionou-se este ano com o festival Super Bock Super Rock.

Uma excelente oportunidade de assistirmos a uma amostra daquilo que Paak tem para nos dar, pois o facto de ter sido em formato festival, deixou bem latente o sentimento de ‘soube a pouco’. Pelo menos para quem naquela sala conhecia a sua força e talento, bem como a versatilidade e qualidade da sua música e que, tal como eu, ficaram agarrados à corrente daquela voz única, rouca, vibrante e cheia de alma desde o primeiro instante. Para quem não era o caso, o que me pareceu ser a maioria, acredito que Paak conseguiu conquistá-los ou, pelo menos, despertar-lhes o interesse acerca do seu trabalho. Isto porque, há uma coisa muito importante que, independentemente do quão bom é um artista e a sua música, pode ou não passar para o seu público: a sua energia.

Paak soube contagiar-nos com a sua energia electrizante desde o início, não só pela sua música, mas pela sua simpatia, pela sua humildade em palco, pela sua entrega, pelo seu talento enorme e, mais do que tudo, por transparecer perfeitamente aquilo que mais prazer lhe dá fazer, esteja ele de pé, balançando o seu flow de um lado ao outro do palco, ou sentado à bateria, marcando veementemente o ritmo ao qual se movem os nossos corpos.

Paak não nos contagiou, contudo, sozinho. No cartaz constava Anderson Paak & The Free Nationals e, efectivamente, foi em grupo que este cantor se fez valer, onde todos e cada um dos seus elementos foram os protagonistas da noite, com especial destaque para Ron Tnava Avant, o teclista que tão e também nos animou no vocoder, com algumas referências nossas conhecidas como ‘Niggas in Paris’ (Jay-Z e Kanye West), ‘Pony’ (Ginuwine) ou Cantaloop (US3).

Anderson Paak & The Free Nationals souberam assim conduzir-nos com mestria numa noite que teve início no mais quente hip hop, ao som de temas como ‘Come Down’ (a abrir), ‘Glowed Up’  (de Kaytranada), ‘Bubblin’ (o seu mais recente single)  e ‘The Season, Carry Me’ (o seu primeiro sucesso). O ritmo abrandou, tornando-se mais suave com ‘The Waters’, ‘Put Me Thru’, ‘Room in Here’ e ‘Birds’, todos retirados do seu último álbum ‘Malibu’, de 2016. E aqui aproveito para fazer um aparte, porque Paak, como habitualmente só os grandes o fazem, teve o detalhe de não nos dar apenas aquilo que já conhecíamos dos seus álbuns, brindando-nos com diferentes versões dos seus temas, como foi o caso de ‘Room in Here’ e os seus arranjos reggae.

Pelo meio disto tudo, houve ainda tempo para percorrer o seu projecto NxWorries (em parceria com o produtor Knxwledge) e o tema ‘Suede’, bem como ‘Sweet Gidget', um dos avanços do que se espera ser o seu próximo álbum.

A temperatura começou a subir novamente ao som de ‘Am I Wrong’, o momento que mais se assemelhou a um encore (pois não havia tempo a perder com isso), e prolongou-se com ‘Light Weight’ e ‘Luh You’, onde Paak conseguiu pôr-nos todos a cantar bem alto: ‘I think I love you’! Por esta altura a eletrónica invadira a sala do Altice Arena e era rainha e senhora da noite, deixando uma energia tão boa no ar que ninguém queria que acabasse.

No total foi cerca de 1:10h de concerto que valeu cada minuto mas, como referi no inicio deste texto, soube a pouco, muito pouco, pelo que, da minha parte, ficarei a aguardar novamente por um concerto a solo, desta vez fora do âmbito festival, pois já não me restam dúvidas, ‘I think I love you’!  E se muitos pensaram ouvir ‘Yes Lord!’, como o próprio brincou, fazendo alusão à possível confusão com ‘Yes Lawd!’, nome do álbum que detém enquanto membro de NxWorries e seu grito de guerra, entoado em vários momentos do concerto, é caso para dizer: YES Lawd! God bless you Anderson Paak!