segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

D'Angelo @ Eventim Apollo [20.02.2015]


Depois de uma semana atribulada, de azáfama e correria, lá estava eu, diante do Eventim Apollo, para mais uma vez assistir ao concerto do cantor (vivo) que mais me arrebata a alma e o coração - D'Angelo.
A história repetira-se. Há dois anos, também em Fevereiro, fora arrastada por esta paixão que me leva a cometer 'extravagâncias' mas que, para mim, não são mais do que as melhores coisas que levo desta vida. Desta vez, ainda que mais resistente ao início, acabei por me deixar arrastar novamente por este amor de longa data (afinal, quem é que eu queria enganar?) e ainda bem que assim foi.

"D'Angelo Live In Concert", as letras que imperavam na fachada do Eventim Apollo eram impossíveis de ignorar ou relevar, provocando o primeiro grande arrepio de muitos que viria a sentir nessa noite. Pela primeira vez depois de aterrada em Londres, consciencializei-me do que estaria prestes a viver e uma sensação de 'bom pressentimento' invadiu-me o peito.

Casa cheia de sorrisos, boa música e ambiente cool para receber o rei que, embora ausente uma larga década, nunca perdeu o trono, nem o precisou reconquistar, bastou-lhe, sim, voltar. Expectantes, curiosos, excitados, entusiasmados, assim estavam todos os presentes naquela sala para perceber se o flavour de Brown Sugar, a magia de Voodoo e a garra de Black Messiah estariam juntos em palco nessa noite. E estiveram... oh se estiveram...

D'Angelo entra em cena imperioso como ele só (efectivamente, o regresso do rei), com a força das palavras de "1000 Deaths" - dos temas mais conscenciosos e revolucionários do seu último trabalho, pondo-nos, assim, a todos de pé, como um líder nato o sabe fazer. A partir desse momento, mais ninguém voltaria a sentar-se.
No mesmo instante percebi que este concerto nada teria a ver com o concerto que presenciara há dois anos. D está preparado, muito preparado, com um novo fôlego, um novo ânimo. Esperou o tempo que tinha de esperar e veio com tudo disposto a nos arrebatar. E assim foi.

Novo visual para este D'Angelo mais crescido e rockeiro, que com as guitarras bem afinadas e afiadas, percorre alguns dos temas do seu novo álbum - "Black Messiah". Também nova é a sua banda, pela qual o mesmo fez questão de nos fazer gritar: "The Vanguard"!!! Numa ovação cada um dos elementos fez-se anunciar, sendo que, foram os velhos amigos que mais nos fizeram vibrar... Pino Palladino, seu fiel companheiro de aventuras, não podia faltar!

Estava eléctrico, tão eléctrico como a sua guitarra, este senhor que de velho não tem nada, acalmando com o primeiro momento esperado da noite (se é que houve 'momentos'... para mim, toda a noite foi um momento - épico - atrevo-me a dizer), ao cantar-nos o doce e apaixonado - "Really Love".
Continuamos doces e retrocedemos um álbum."Feel Like Makin' Love", de Voodoo (2000), mantém-nos enfeitiçados. Mas é a seguir, quando o vejo ir em direcção ao piano e começo a ouvir as primeiras notas de "One Mo Gin", que me encho verdadeiramente de felicidade. Nem acredito - pensei - ele vai cantar um dos meus temas preferidos, daqueles que pouca esperança tinha que ele pudesse cantar. Que bom, que maravilhosamente bom foi ouvi-lo cantar para mim, ao vivo, aquele som que tantas e tantas noites me acompanha no aconchego da minha sala. 
Também nessa música surge o primeiro grande jam da noite. Damn... como está em forma este homem! Mais em forma do que nunca! Que voz, que presença, que energia em palco! Nem a meio do concerto íamos e, para mim, já tinha valido a pena!




Ouvimos "Alright" para descomprimir e, assim, fomos até onde tudo começou - o seu primeiro álbum - Brown Sugar (1995) - cujo tema-título ouvir-se-ia a seguir, inundando de groove, bounce, flow, toda uma sala de 'açúcar-dependentes'.




D'Angelo está louco, possuído e quer pôr-nos assim também! Calmamente, sedutor como ele só, dirige-se para o meio da multidão enlouquecida, que tudo faz para o sentir, tocar, ver. Foi apenas mais um acto, dos muitos que o cantor fez ao longo do concerto para cativar a sua audiência. Incansável a puxar por nós, seja pedindo palmas, interagindo connosco ou misturando-se na plateia, D'Angelo foi nosso nessa noite!

E depois de um pouco de Brown Sugar, retomámos Black Messiah com"The Charade" e "Sugah Daddy", que nos deixa endiabrados, batendo palmas afincadamente, como na época em que o gospel se debatia com o soul, considerada na altura 'música do diabo'. Se assim fosse, nessa noite todos teríamos ido parar ao Inferno de bom grado.

Aproximamo-nos do fim e D simula despedir-se. Algo impensável para os muitos que se encontravam naquela sala e gritavam por mais, muito mais! Assim foi, "Back To The Future (Part I)" é a canção que o faz regressar, prosseguindo com o clássico bem recordado, "Left & Right". Um a um, todos os temas quentes foram caindo e nós cada vez mais perto do auge. 

Para terminar (ainda que não culminar), "Chicken Grease". Li depois do concerto uma frase em que o Rui Miguel Abreu (bastante entendido na matéria) diz: "James Brown e Marvin Gaye tiveram um filho. Chama-se D'Angelo." Não podia estar mais de acordo, e também acrescentar seu padrinho - Prince :)  Por várias vezes senti a presença destes espíritos em palco, encarnados na voz e nos movimentos de D'Angelo, especialmente o do endiabrado Godfather, James Brown.

Por fim e, agora sim, para culminar... um tema que desta vez até podia faltar, pois o concerto já estava mais do que ganho. Contudo, é impossível não ansiar por esta canção que tantos corações faz suspirar, há tanto tempo - "Untitled (How Does It Feel)".
Alguns já abandonavam a sala mas a esperança é sempre a última a morrer para muitos dos que ali permaneciam e acreditavam que o génio D regressaria para consumar este concerto esplendoroso, pondo a cereja no topo do bolo.

E se com garra começámos este concerto, foi com o coração bem mole que dele nos despedimos. D'Angelo interpretou "Untitled" de forma apaixonada, doce e quente. No decorrer, os elementos de "The Vanguard" foram se despedindo um a um e, suavemente, depois do seu pequeno solo, abandonaram o palco numa merecida chuva de aplausos. Restaram os dois bons amigos para o final. Pino Palladino levou para casa a segunda maior ovação, deixando o rei sozinho em palco com o seu piano. D'Angelo, despede-se com a sua brilhante voz, que não falhou uma única vez em 2 horas de concerto, deixando uma multidão emocionada, em êxtase.

E assim fiquei eu, feliz, completamente entregue e extasiada... ainda em convalescença, arrepiada só de me lembrar ao escrever estas palavras. Sei que foi um dos momentos mais especiais da minha vida, daqueles que levarei comigo seja lá para onde e quando for, que irei recordar com calor e um sorriso sempre que olhar para trás.

A vida é curta, preciosa. Seja o que for que vos move e vos faz feliz, se tiverem possibilidades de o fazer, não hesitem, não se contenham, vivam-no!

:)



Alinhamento:

01. Prayer
02. 1000 Deaths
03. Ain't That Easy
04. Really Love
05. Feel Like Makin' Love
06. One Mo Gin
07. Alright
08. Brown Sugar
09. The Charade
10. Sugah Daddy

Encore 1:
11. Back To The Future (Part I)
12. Left & Right
13. Chiken Grease

Encore 2:
14. Untitled (How Does It Feel)

1 comentário:

  1. Amazing!!!!!!!!!! Até me arrepiei outra vez Lucélia :)

    Foi um concerto mais do que fantástico. Que sorte tivemos nós em presenciar isso. Já agora, boa sorte para a entrevista no M.

    Também sou ouvinte assídua e contribuía para a página do FB regularmente com os meus concertos :)

    Beijinhos às duas!!!

    Susana xx

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