segunda-feira, 30 de julho de 2012

The Bravest Man in The Universe


Normalmente, tenho por hábito pesquisar sobre músicos de soul que vingaram no passado, nos anos 60 e 70 e que, maioritariamente, já não se encontram entre nós. Começo pelos seus primeiros trabalhos, os que os tornaram famosos, até aos mais recentes.

Desta vez, aconteceu-me o contrário.

Conheci Bobby Womack aos seus 68 anos e com o seu 27º álbum lançado no corrente ano de 2012 - “The Bravest Man in The Universe”.

É claro que após ouvir o seu primeiro single "Please Forgive My Heart”, fui LOGO investigar TUDO acerca deste Senhor!


"The Bravest Man in The Universe" constitui um regresso, em grande, deste lendário cantor de soul.

Tenho um respeito e admiração enorme por artistas que, como ele, adaptam a sua música ao tempo real em que vivemos, dando-lhe uma nova 'roupagem' de acordo com as tendências actuais do mundo da música e, ainda assim, mantêm a sua essência e identidade constante. É preciso coragem e, acima de tudo, inteligência para fazê-lo com êxito.

Foi talvez por isso que Bobby rodeou-se das pessoas certas para ajudarem-no a concretizar este desafio. Falo de Demon Albarn (dos Blur e Gorillaz) e Richard Russell (da editora Britânica XL Recordings) - os produtores deste álbum.

A combinação funcionou bem. De um lado temos a voz de Womack, grave, carregada, representante de um soul do passado, do outro temos os beats electrónicos de Demon e Russell, representantes do mundo frenético em que vivemos. O antigo e o moderno fundem-se. 

Para mim, este álbum primeiro estranha-se, depois entranha-se.

É considerado também como um álbum introspectivo de Bobby Womack. A sua primeira música, a que lhe dá o nome, retrata bem isso…

“The Bravest man in the universe,
Is the one who has forgiven first,
I got a story I want to tell
Gather round me
Gather round me boys and girls
I once was lost
But now I’m found
When I beer up so high
I always know how to come down…”




Do álbum, destaco também  “Deep River” - talvez a música que mais o aproxima às suas raízes; “Stupid” - com a introdução de Gil Scott-Heron e "Dayglo Reflection" - um dueto com Lana Del Rey, considerada por muitos a relevação da música Indie Pop do momento.

Posso dizer que gostei deste novo Bobby Womack, mas confesso que adorei descobrir o antigo... é que o soul, na sua essência mais pura, continua a ser o que verdadeiramente me apaixona. 

Foi por isso um prazer conhecer alguns dos seus  primeiros álbuns como “Communication” (1971) e“Understanding” (1972) e até mesmo a banda sonora que produziu para o filme "Across 110th Street" (1972), cujo single pode ser também ouvido no clássico de Quentin Tarantino,“Jackie Brown”, ou em “American Gangster” de Ridley Scott.




Nascido em Clevland (EUA), este cantor, músico e compositor, iniciou a sua carreira como guitarrista, formando um grupo com os seus irmãos - “The Womack Brothers”, que  mais tarde seria descoberto por Sam Cooke, lançando-os como “The  Valentinos”.  Posteriormente, foi também o guitarrista de Aretha Franklin na gravação de alguns dos seus álbuns e escreveu músicas para Wilson Pickett, o que lhe valeu também o reconhecimento como compositor.

O seus primeiros trabalhos a solo surgem no final da década de 60, pela editora Minit, mas é em 1971, após assinar com a editora United Artists, que Bobby atinge o seu primeiro grande hit – “That's the Way I Feel About Cha” (do álbum “Communication”) que, por acaso, é também o meu tema preferido deste cantor.


Destaco também os temas "Woman's Gotta Have It", "Lookin' For a Love", "Harry Hippie", "If You Don't Want My Love", o cover de "California Dreamin" (original de The Mamas & The Papas) e este bonito tema que me encantou desde o primeiro segundo em que o ouvi tocar no meu gira-discos  – "Close To You".


Espero que tenham gostado e, se foi o caso, que tenham tido tanto prazer como eu em descobri-lo.

sábado, 28 de julho de 2012

Badu




O meu primeiro post, não podia ser outro senão sobre Erykah Badu.

Quando soube que Erykah Badu vinha a Portugal pela primeira vez, senti uma alegria enorme. Sabia que iria assistir a um grande concerto, um concerto que iria ficar marcado no meu coração por muito tempo, por várias razões… pela beleza da sua voz, pela sua música, pela sua autenticidade... Eryka Badu é uma artista genuína e o seu trabalho reflecte todo o seu talento e todo o seu amor pela música. Vê-la em palco, foi mais do que uma comprovação, foi um verdadeiro prazer, uma partilha geral que sentiu-se através da energia e da cumplicidade que se estabeleceu entre ela e nós.

No dia seguinte ao concerto que assisti em Cascais (que ocorreu no dia 19 deste mês), só me apetecia… explodir! Deitar cá para fora todas as emoções que senti naquele concerto e que me acompanharam nos dias seguintes.

Pus-me a escrever e saiu isto….

“Bem, ando para aqui às voltas a pensar no que hei de escrever... por onde começar?! Como descrever aquela mulher e a noite mágica que ela nos deu??
É difícil, muito difícil... pois a pessoa que gosta de Erykah Badu e assistiu àquele concerto, por esta altura ainda não conseguiu acalmar o turbilhão de sentimentos que tem dentro de si!

Que ela é talentosa, tem uma voz única e uma musicalidade fantástica, ok, nós já sabíamos.
Que o seu trabalho tem qualidade, que o seu estilo é inconfundível e que ela é a grande representante do Neo Soul, sim, nós também já sabemos!
Agora, da sua generosidade em palco.. bem, eu pelo menos não a sabia, ou então, não a esperava tanta!

O concerto foi inesquecível por vários factores... o primeiro foi a concentração de pessoas que estava lá para ver Badu. Não outro artista qualquer! Não, era apenas e só Badu! Pessoas amantes de Soul, R&B, Hip Hop, pessoas que seguem a sua carreira, que adoram a sua voz e que veneram o Baduizm...  e bolas... como se sentiu isso... como se sentiu essa energia!  Ela deu-nos TUDO... e nós retribuímos.
Depois, ver o à vontade com que aquela Senhora pisa o palco... de facto, está em casa... ela brinca com ele, faz o que quer dele (e de nós!). A sua capacidade de improviso é incrivelmente natural... e mesmo que assim não fosse, qualquer coisa que ela dissesse ou fizesse por mais idiota que fosse, faria-o com geniosidade e classe, tornando-o bom.

As músicas... bem, sinceramente, não me interessa se não cantou a "Window seat"... as que cantou foram todas e cada uma tão... saborosas, poderosas, maravilhosas and on & on... ;)  Como ela transforma em palco as suas músicas que nós tão bem conhecemos, dá-lhes a volta e no caminho passa por outras sonoridades, pequenos pormenores que nós, quase que instintivamente reconhecemos. 
Ela é contagiante, cativante, forte e frágil ao mesmo tempo, passa de músicas cheias de força e ritmo que nos deixam a dançar de braços no ar, a sons calmos, tão bonitos e puros que nos elevam e nos fazem sonhar.

Enfim, pormenores técnicos para quê? Foi perfeito... o sentimento estava lá, forte, presente... a comunhão com o público também... que mais podemos pedir?? Apenas que ela volte, muitas e muitas mais vezes.”

E pronto, foi isto que eu senti, num dos concertos que posso dizer, foi dos melhores que assisti até hoje na vida. Hajam mais artistas destes pelo mundo, criando beleza e espalhando uma mensagem de paz como ela o fez! Foi de uma entrega total.

Para terem uma pequena amostra, deixo-vos este video que encontrei no youtube, de um dos momentos da noite e cuja frase vai ficar marcada e associada para sempre a este concerto, para todos aqueles que lá estiveram.

…. And if you feel good, don’t be scared… let everybody know you feel good... You only got one chance to be you!


 
Para quem não conhece Erykah Badu e ficou com vontade de conhecer, aconselho a ouvir o seu primeiro álbum “Baduizm” (1997). Para mim o seu melhor álbum, o que a lançou no mundo da música e o que melhor identifica a sua carreira.



Este álbum é também uma das referências do género musical emergente na década de 90, o Neo Soul – um Soul consciente, tal como o dos anos 70, mas mais contemporâneo, fundindo-se com sonoridades que vão desde o R&B, Jazz, Funk e até mesmo o Hip Hop.
 
Os restantes albuns da artista (“Mama’s Gun” (2000), “Worldwide Underground” (2003), “New Amerykah Part One (4th World War)” (2008), “New Amerykah Part Two (Return of the Ankh)” (2010)) são igualmente bons, dos quais destaco alguns temas como:  “Didn't Cha Know”, “...& On”, “Cleva”, “Bag Lady”, “I want you”, “Love of my life”, “The Healer”, “Soldier”, “Window seat”, “Fall in love” e “Out of my mind, just in time”.


Os últimos álbuns apresentam-se com sons mais arrojados, densos e com o Hip Hop e beats electrónicos mais presentes. As músicas são fortes, com conotações político-sociais que pretendem retratar  a sociedade actual em que vivemos, mais urbana, intolerante, violenta... Tal como a artista referiu no concerto, trata-se da 4th World War - a revolta do povo contra a sociedade que nos foi incutida, contra o preconceito, o abuso de poder e a perda dos nossos direitos.  

Como podem ver, esta Senhora não é somente apaixonada, mas é também inteligente, diversificada e consciente na música que faz.
 
E eu?

Eu estou a aguardar ansiosamente por um New Amerykah Part Three! :)