segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sam Cooke



Como vocês sabem, um bom concerto é das melhores coisas que me podem dar se me quiserem ver feliz, radiante ou em êxtase. Como se costuma dizer, cada um com a sua “pancada”. No meu caso, torna-se fácil perceber qual é. Fico feliz ao ouvir uma música nova que me apaixone, quando descubro novos cantores cheios de potencial, quando vou no carro e passa na rádio a música certa que eu preciso ouvir… enfim, pequenas coisas que alegram o meu dia-a-dia.
Agora, fico extremamente feliz quando, não só consigo ouvir esta música mas também, senti-la. Quando consigo apreciar e sentir a mestria e a paixão dos músicos. Quando sinto a perfeição entre as vozes e os instrumentos que até causa arrepios. Quando se gera uma cumplicidade e empatia entre os músicos e o seu público tão natural que, ambos dão e recebem de forma sincera e desmedida… Quando improvisam, divertem-se, são arrojados, enlouquecem em palco e enlouquecem-nos a nós também! 
Para mim é isto que um bom concerto me transmite: arte e amor.

Pois bem, os pontos altos da minha semana que agora chega ao fim foram:

* Receber a maravilhosa notícia de que John Legend irá actuar em Portugal no dia 27 de Julho, no EDP Cool Jazz. É engraçado que ainda no outro dia estava a comentar com uma amiga acerca dos cantores que nunca tinha visto actuar e que adorava ver e, John Legend, estava no topo da lista! 
John Legend tem uma das vozes mais quentes e únicas que conheço, adoro o seu groove, toda a sua sensualidade e o bounce das suas músicas… Enfim, esta notícia deixou-me radiante! 

* O concerto extraordinário a que assisti no Ondajazz, na passada quinta-feira, com os Groove4tet e as participações de Rui Veloso, Nanã Sousa Dias e Héber Oliveira Marques. Os Groove4tet são uma banda composta por 4 jovens músicos (Frederico Martinho, Daniel Lima, Pedro Pinto e João Correia) que tocam covers e também temas originais, desde o Soul ao Jazz, passando pelo Blues e pelo Funk. 
Já conhecia a qualidade do seu trabalho de outros concertos (também no Ondajazz e no Musicbox), mas nunca tinha assistido a um tão bom e tão completo com este! Talvez devido às participações preciosas com as quais puderam contar, em especial a do grande Rui Veloso. Todos os factores que descrevi acima como sendo elementos de um bom concerto estiveram presentes, como tal, senti-me extremamente feliz nessa noite e apenas me resta transmitir a minha gratidão e admiração.

Bem, mas tudo isto está relacionado com a inspiração para o tema desta semana. Isto porque, uma das músicas que ouvi nessa noite (e da qual gosto muito) remeteu-me para um dos cantores mais antigos e pioneiros do Soul de todos os tempos: Sam Cooke

Lembrei-me do meu vinil de Sam Cooke, o qual gosto muito de colocar sempre que faço jantares lá em casa, pois a sua música é tão agradável e bem-disposta que transforma qualquer ambiente na mesma forma e medida.




“Bring It On Home to Me” foi editada em 1962 e, tal como grande parte das suas canções, foi alvo de inúmeras interpretações pelos mais variados artistas como The Animals, John Lennon ou The Supremes. A mesma não faz parte do meu vinil, mas sim faz a que segue, o primeiro grande êxito de Sam Cooke lançado em 1957 - “You Send Me”.




No seguimento desta música foi gravada a maravilhosa versão que Cooke fez da melodia “Summertime”, composta em 1935 por George Gershwin para a ópera “Porgy and Bess”. Esta versão seria uma das primeiras entre as centenas de versões que viriam a ser gravadas desta música, considerada como uma das canções com mais covers de sempre. 


 

“Lovable” e “I’ll Come Running Back To You” são dois doces, cantados pela voz doce de Sam Cooke. Daquelas músicas para se dançar a dois, bem agarradinhos, enquanto o tempo pára.







Mas afinal quem é o homem por detrás da voz doce?

Samuel Cook, mais conhecido como Sam Cooke, nasceu em 1931 no Mississippi (E.U.A.) e foi um cantor de Soul, Gospel e R&B considerado como um dos fundadores da soul music, valendo-lhe por isso a alcunha de “King of Soul”. A sua música influenciou os também clássicos Marvin Gaye, Aretha Franklin, Al Green, Otis Redding ou Curtis Mayfield (entre outros), constituindo a base essencial do Soul que se ouvia nos anos 60 e 70 na América, o qual por sua vez evoluiu até ao Neo-Soul que ouvimos hoje. 

Cooke não só inventou as melodias que iriam dar forma e consistência ao Soul das próximas décadas, como também conseguiu que estas fossem ouvidas por todos. Numa época em que a segregação racial estava bem presente, ele conseguiu conquistar a credibilidade de ambos públicos, sendo apreciado e elogiado tanto pelo público negro, como pelo branco.
Adicionalmente, foi também dono de duas editoras (discográfica e publicitária), tornando-o num dos primeiros músicos a envolver-se no negócio da música, como sendo uma extensão da sua carreira.

Mas voltemos à sua música!

Na viragem da década, em 1960, é lançado o tema “(What a) Wonderful World”. Outro êxito na carreira de Cooke, escrito e composto pelo mesmo na década de 50, inspirado num dos seus amores de liceu.



Ao longo da década de 60, Cooke foi incrementando o seu estilo com outros registos por forma a que as suas músicas não fossem apenas melodias românticas, mas também mexidas e sensuais, acompanhando a evolução da sociedade de então. Um exemplo disso foi quando lançou em 1962 o tema "Twistin' the Night Away”, no qual introduziu uma componente Twist na sua música tornando-a dançável pelas camadas mais jovens.Também o tema “Shake” foi um sucesso precisamente por isso, por ser um Soul mais dançável, mais sexy, tirando-o do seu registo romântico habitual. Um cover muito conhecido deste tema foi o de Otis Redding em 1967.





Por fim, o derradeiro tema que marcou a carreira de Sam Cooke – “A Change Is Gonna Come” (1964). A essência e a razão de ser desta música prendem-se com vários acontecimentos que decorreram naquela época. 
Primeiro trata-se de mais um hino contra o racismo que se fazia sentir naqueles anos na América. Embora com receio de não contar com a aprovação de grande parte do seu público branco, Cooke sentiu-se na obrigação de protestar contra a discriminação racial existente na altura. Talvez o acontecimento que mais o incentivou a escrever esta canção foi aquando da sua detenção e da sua banda, por distúrbios causados num motel na Lousiana que não permitiu que se alojassem por serem negros.
Outro motivo com o qual esta música está relacionada deve-se ao período difícil que Cooke estava a atravessar, devido à morte acidental do seu filho de um ano e meio em 1963.
Por último, há quem diga que esta música representa igualmente a viragem definitiva na carreira de Sam Cooke, passando do seu Gospel clássico para outras sonoridades mais modernas, como o Pop.

Quaisquer que sejam os motivos, eu simplesmente sei que esta música é qualquer coisa de maravilhoso. Adoro a sua incrível capacidade de transmitir algo tão precioso hoje e sempre – esperança.



Este seria um dos seus últimos grandes sucessos antes da sua trágica morte em 1964. Aos 33 anos Sam Cooke é alvejado pela gerente de um hotel na Califórnia, segundo a mesma, em defesa pessoal. Este crime foi alvo de grande controvérsia e foi fechado oficialmente. Contudo, nunca se conseguiu apurar as evidências que provassem a integridade do mesmo.

Bem, para terminar, despeço-me com este documentário sobre a vida de Sam Cooke. Se ficaram interessados tirem um bocadinho do vosso tempo para verem este documentário. Remete-nos para aquela época e conta-nos histórias bem interessantes sobre este cantor. Um dos testemunhos que encontramos no documentário é o de Bobby Womack (do qual Sam Cooke foi produtor no inicio da sua carreira).












Espero que tenham gostado de conhecer mais uma figura importante do Soul que nós tanto amamos. E não se esqueçam, a inspiração pode vir de qualquer lado, a qualquer hora, basta estarmos atentos.




 

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