Como vocês sabem, um bom concerto é das melhores coisas que
me podem dar se me quiserem ver feliz, radiante ou em êxtase. Como se costuma
dizer, cada um com a sua “pancada”. No meu caso, torna-se fácil perceber qual
é. Fico feliz ao ouvir uma música nova que me apaixone, quando descubro novos
cantores cheios de potencial, quando vou no carro e passa na rádio a música
certa que eu preciso ouvir… enfim, pequenas coisas que alegram o meu dia-a-dia.
Agora, fico extremamente feliz quando, não só consigo ouvir esta música mas também, senti-la. Quando consigo apreciar e sentir a mestria e a paixão dos músicos. Quando sinto a perfeição entre as vozes e os instrumentos que até causa arrepios. Quando se gera uma cumplicidade e empatia entre os músicos e o seu público tão natural que, ambos dão e recebem de forma sincera e desmedida… Quando improvisam, divertem-se, são arrojados, enlouquecem em palco e enlouquecem-nos a nós também!
Agora, fico extremamente feliz quando, não só consigo ouvir esta música mas também, senti-la. Quando consigo apreciar e sentir a mestria e a paixão dos músicos. Quando sinto a perfeição entre as vozes e os instrumentos que até causa arrepios. Quando se gera uma cumplicidade e empatia entre os músicos e o seu público tão natural que, ambos dão e recebem de forma sincera e desmedida… Quando improvisam, divertem-se, são arrojados, enlouquecem em palco e enlouquecem-nos a nós também!
Para
mim é isto que um bom concerto me transmite: arte e amor.
Pois bem, os pontos altos da minha semana que agora chega
ao fim foram:
* Receber a maravilhosa notícia de que John Legend irá actuar
em Portugal no dia 27 de Julho, no EDP Cool Jazz. É engraçado que ainda no outro
dia estava a comentar com uma amiga acerca dos cantores que nunca tinha visto actuar e que adorava ver e, John Legend, estava no topo da lista!
John
Legend tem uma das vozes mais quentes e únicas que conheço, adoro o seu groove, toda a sua sensualidade e o bounce das suas músicas… Enfim, esta
notícia deixou-me radiante!
* O concerto extraordinário a que assisti no Ondajazz, na
passada quinta-feira, com os Groove4tet e as participações de Rui Veloso, Nanã
Sousa Dias e Héber Oliveira Marques. Os Groove4tet são uma banda composta por 4
jovens músicos (Frederico Martinho, Daniel Lima, Pedro Pinto e João Correia) que
tocam covers e também temas
originais, desde o Soul ao Jazz, passando pelo Blues e pelo Funk.
Já
conhecia a qualidade do seu trabalho de outros concertos (também no Ondajazz e
no Musicbox), mas nunca tinha assistido a um tão bom e tão completo com este! Talvez
devido às participações preciosas com as quais puderam contar, em especial a do grande Rui Veloso. Todos os factores que descrevi acima como sendo elementos
de um bom concerto estiveram presentes, como tal, senti-me extremamente feliz
nessa noite e apenas me resta transmitir a minha gratidão e admiração.
Bem, mas tudo isto está relacionado com a inspiração para o tema desta
semana. Isto porque, uma das músicas que ouvi nessa noite (e da qual gosto
muito) remeteu-me para um dos cantores mais antigos e pioneiros do Soul de todos os tempos: Sam Cooke!
Lembrei-me do meu vinil de Sam Cooke, o qual gosto muito de colocar sempre que faço jantares lá em
casa, pois a sua música é tão agradável e bem-disposta que transforma qualquer
ambiente na mesma forma e medida.
“Bring It On Home to Me” foi editada em
1962 e, tal como grande parte das suas canções, foi alvo de inúmeras
interpretações pelos mais variados artistas como The Animals, John Lennon ou
The Supremes. A mesma não faz parte do meu vinil, mas sim faz a que segue, o primeiro grande êxito de Sam
Cooke lançado em 1957 - “You Send Me”.
No seguimento desta música foi gravada a maravilhosa versão que Cooke fez da melodia “Summertime”, composta em 1935
por George Gershwin para a ópera “Porgy
and Bess”. Esta versão seria uma das primeiras entre as centenas de versões que viriam a ser gravadas desta música, considerada como uma das canções com mais covers de sempre.
“Lovable”
e “I’ll Come Running Back To You” são dois doces, cantados pela voz doce de Sam
Cooke. Daquelas músicas para se dançar a dois, bem agarradinhos, enquanto o tempo pára.
Mas afinal quem é o homem por detrás da voz doce?
Samuel Cook, mais conhecido como Sam Cooke, nasceu em 1931
no Mississippi (E.U.A.) e foi um cantor de Soul, Gospel e R&B considerado
como um dos fundadores da soul music,
valendo-lhe por isso a alcunha de “King of Soul”. A sua música influenciou os
também clássicos Marvin Gaye, Aretha Franklin, Al Green, Otis Redding ou Curtis
Mayfield (entre outros), constituindo a base essencial do Soul que se ouvia nos
anos 60 e 70 na América, o qual por sua vez evoluiu até ao Neo-Soul que ouvimos
hoje.
Cooke não só inventou as melodias que iriam dar forma e
consistência ao Soul das próximas décadas, como também conseguiu que estas fossem
ouvidas por todos. Numa época em que a segregação racial estava bem presente,
ele conseguiu conquistar a credibilidade de ambos públicos, sendo apreciado e
elogiado tanto pelo público negro, como pelo branco.
Adicionalmente, foi também dono de duas editoras (discográfica
e publicitária), tornando-o num dos primeiros músicos a envolver-se no negócio
da música, como sendo uma extensão da sua carreira.
Mas voltemos à sua música!
Na viragem da década, em 1960, é lançado o tema “(What a)
Wonderful World”. Outro êxito na carreira de Cooke, escrito e composto pelo mesmo
na década de 50, inspirado num dos seus amores de liceu.
Ao longo da década de 60, Cooke foi incrementando o seu estilo
com outros registos por forma a que as suas músicas não fossem apenas melodias
românticas, mas também mexidas e sensuais, acompanhando a evolução da sociedade de então. Um exemplo disso foi quando lançou em 1962 o tema "Twistin'
the Night Away”, no qual introduziu uma componente Twist na sua música tornando-a
dançável pelas camadas mais jovens.Também o tema “Shake” foi um sucesso
precisamente por isso, por ser um Soul mais dançável, mais sexy, tirando-o do
seu registo romântico habitual. Um cover muito conhecido deste tema foi o de
Otis Redding em 1967.
Por fim, o derradeiro tema que marcou a carreira de Sam
Cooke – “A Change Is Gonna Come” (1964). A essência e a razão de ser desta
música prendem-se com vários acontecimentos que decorreram naquela época.
Primeiro trata-se de mais um hino contra o racismo que se fazia sentir
naqueles anos na América. Embora com receio de não contar com a aprovação de grande
parte do seu público branco, Cooke sentiu-se na obrigação de protestar
contra a discriminação racial existente na altura. Talvez o acontecimento que
mais o incentivou a escrever esta canção foi aquando da sua detenção e da sua
banda, por distúrbios causados num motel na Lousiana que não permitiu que se
alojassem por serem negros.
Outro motivo com o qual esta música está relacionada deve-se
ao período difícil que Cooke estava a atravessar, devido à morte acidental
do seu filho de um ano e meio em 1963.
Por último, há quem diga que esta música representa
igualmente a viragem definitiva na carreira de Sam Cooke, passando do seu Gospel clássico
para outras sonoridades mais modernas, como o Pop.
Quaisquer que sejam os motivos, eu simplesmente sei que esta
música é qualquer coisa de maravilhoso. Adoro a sua incrível capacidade de
transmitir algo tão precioso hoje e sempre – esperança.
Este seria um dos seus últimos grandes
sucessos antes da sua trágica morte em 1964. Aos 33 anos Sam Cooke é alvejado
pela gerente de um hotel na Califórnia, segundo a mesma, em defesa pessoal.
Este crime foi alvo de grande controvérsia e foi fechado oficialmente. Contudo, nunca
se conseguiu apurar as evidências que provassem a integridade do mesmo.
Bem, para terminar, despeço-me com este
documentário sobre a vida de Sam Cooke. Se ficaram interessados tirem um
bocadinho do vosso tempo para verem este documentário. Remete-nos para aquela
época e conta-nos histórias bem interessantes sobre este cantor. Um dos testemunhos que encontramos no documentário é o de Bobby Womack (do qual Sam Cooke foi produtor no inicio da sua carreira).
Espero que tenham gostado de conhecer
mais uma figura importante do Soul que nós tanto amamos. E não se esqueçam, a
inspiração pode vir de qualquer lado, a qualquer hora, basta estarmos atentos.
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