sábado, 16 de fevereiro de 2013

Otis Redding




Hoje, após uma semana cansativa e stressante de trabalho, cheguei a casa apenas com uma certeza – a música que eu queria ouvir.

Entrei em casa, pousei as coisas que carrego no meu dia a dia, e fui directa ao meu sítio predilecto da casa – o meu “cantinho dos vinis”.

Ao acaso, retirei um dos três vinis que tenho deste cantor e pu-lo a tocar... Assim que soaram as primeiras notas, respirei de alívio. 

Esta noite, eu só queria estar com Otis Redding.



E de facto, ele foi a minha companhia. 

Foi a minha banda sonora enquanto preparei o jantar, abri uma garrafa de vinho e acendi as minhas velas pela casa. Que bem sabe… como eu venero estes pequenos momentos, só eu e a minha música. 

Pois bem, é verdade que me sinto cansada após esta longa semana de trabalho e, talvez se fechar os olhos por um bocado,  não irei concluir este post hoje… Contudo, a vontade de escrever é tão forte que não resisti a ligar o pc e agora aqui me encontro, partilhando o meu pequeno prazer, a minha justa recompensa, todo meu amor por Otis Redding, convosco.



Tenho três vinis de Otis Redding e aquele que retirei ao acaso foi, precisamente, o seu primeiro álbum - “Pain In My Heart”, de 1964. Tenho a dizer-vos que, à medida que estou a escrever e a ouvir simultaneamente as suas músicas em shuffle, penso: “Como é que raio vou conseguir fazer uma selecção das suas músicas??!!” (…) É que são tantas e tão bonitas! Todas elas tão sentidas, todas deixam um rasto de amor por onde passam… e sua voz… a voz de Otis é qualquer coisa de maravilhoso! Carrrrrrrrregada!! Tal como o soul assim o exige. Doce e meiga ou sensual e quente, dá para todos gostos. A voz de Otis Redding é inigualável, inexplicável, incomparável.


E como é que eu conheci Otis Redding?

Foi nos tempos da faculdade, quando numa biblioteca um amigo deu-me um CD dele para as mãos e disse-me algo do género: “Não conheces?? Este cantor é muito bom e o mais curioso é que este tema foi lançado depois de ele morrer e tornou-se no seu maior sucesso”… (se calhar estás a ler isto e não te lembras, mas o que é certo é que desde esse dia nunca mais larguei o Otis Redding. Obrigada!!)

O tema tratava-se de "(Sittin' On) The Dock of the Bay”, a música que Otis escreveu e gravou meses antes de falecer num trágico acidente de avião. Tanto a música como o álbum da qual faz parte (“Dock of the Bay”) foram grandes êxitos, constituindo o trabalho póstumo com mais sucesso de sempre nos charts musicais.  
Os primeiros versos desta música foram escritos por Otis na Califórnia, na sua casa-barco atracada num porto de Sausalito. Calculo que a vista deveria ser deveras maravilhosa, ao ponto de inspirá-lo numa canção tão perfeita, tão apaziguadora... tão simples e real como é a vida. 
Foi um dos seus maiores sucessos, vendeu milhares de cópias e valeu-lhe dois Grammys póstumos (Best R&B Song e Best Male R&B Vocal Performance).... sensacional.



Otis Ray Redding Jr. nasceu em 1941, na Georgia (E.U.A.) e é um dos maiores cantores de soul da história da música, não fosse apelidado de “King of Soul”.
Começou por trabalhar para a banda de apoio de Little Richard’s (“The Upsetters”) quando tinha apenas 15 anos. Posteriormente, juntou-se à banda do guitarrista de blues, Johnny Jenkins, até que a editora Stax Records o descobriu e o contratou, dando-o a conhecer ao mundo com este maravilhoso primeiro single.



These arms of mine
They are lonely, lonely and feeling blue
These arms of mine
They are yearning, yearning from wanting you


“These Arms Of Mine”, bem como “Pain In My Hear”, fazem parte do seu debut álbum com o mesmo nome. Além destas duas magníficas baladas, o álbum conta também com os covers “Stand by Me” (Ben E. King) e “You Send Me” (Sam Cooke). Mas se pensam que a música de Otis Redding é só baladas, enganam-se! O seu swing dá para muito mais! Otis era especialista em misturar outros estilos no seu soul como o rock & roll, o funk e o blues. O resultado são temas como os que se seguem - extremamente dançáveis, mexidos e com groove claro, muito groove.


 




Em 1965 Otis edita 2 álbuns, sendo que é do último que eu quero falar - “Otis Blue: Otis Redding Sings Soul”. Trata-se de um disco maioritariamente de covers, ainda assim, não posso tirar o mérito a Otis Redding… é que mesmo não se tratando de temas originais, a forma tão "sua" em como ele os interpreta é tão boa, tão igualmente autêntica que, por vezes, sinto que estou a ouvir temas novos!




Além deste tema, o álbum conta com mais duas canções originais: “Respect”, que muitos conhecem através da ainda mais famosa versão de Aretha Franklin, e “Ole Man Trouble”. Os restantes temas tratam-se de covers como, por exemplo, "Change Gonna Come” e “Shake” de Sam Cooke, “My Girl” de Smokey Robinson, “Satisfaction” de Rolling Stones e o maravilhoso “Rock Me Baby” de B.B. King… e neste último temos um Otis Redding sensual, singing the blues… 
 

Para terminar a minha viagem com Otis Redding, apenas quero falar-vos de mais três músicas. 

A primeira já aqui foi mencionada antes e foi tema para um dos meus primeiros posts… falo da minha música preferida de sempre de Otis Redding – “Cigarettes and Coffee”. Querem conhecê-la e saber porquê? Leiam o meu post! :P

A segunda é a groovy “Love Man”, tema título de outro dos seus álbuns póstumos, gravado em 1967 e lançado em 1969. Só o começo desta música, com aquela bateria frenética, já anuncia que algo de bom virá a seguir… De facto, não engana. Toda a música é uma combinação perfeita de ritmos, criada por uma conjugação igualmente perfeita entre a voz de Otis Redding e os seus músicos, alguns deles tão conceituados com Booker T. Jones ou Isaac Hayes.  




Por fim, outro tema que amo do fundo do meu coração, pela sua letra, pela sua doçura, pela forma apaixonada e arrebatadora em como Otis a interpreta… pelo seu começar suave e terminar intenso…. Por tudo, “Try a Little Tenderness”.




O que mais me entristece ao escrever este post é contar-vos como um cantor como Otis Redding, que cantou e escreveu músicas tão fabulosas como estas que acabaram de ouvir, morre aos 26 anos de idade ao despenhar-se o avião no qual viajava com a sua banda em digressão. Como é possível um artista do tamanho de Otis deixar-nos desta forma tão prematura…? Se aos 26 anos e com apenas 6 álbuns editados, já era considerado o “King of Soul”, conseguem imaginar o quanto ele ainda tinha para dar? A dimensão do seu talento? O quanto ele ainda poderia evoluir, enriquecer, melhorar…??? Bem, custa-me sinceramente pensar nestas coisas, por isso opto por recordá-lo em vivo, com toda a sua paixão pela música e alegria de viver, como demonstra em alguns dos seus concertos que se seguem.




Este foi, sem dúvida, dos posts mais fáceis e rápidos de escrever para mim. Penso que percebem o porquê… espero que tenham gostado tanto de lê-lo como eu de escrevê-lo.

Boa noite, bom fim-de-semana, aproveitem a vida.
 

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