quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Donny Hathaway


Hoje, como frequentemente o faço, passei nos correios antes de ir para o trabalho e levantei mais um vinil que, após uma longa jornada e ter cruzado o oceano, deixa para trás a sua terra natal para, assim, encontrar um novo lar, onde o soul reside, igualmente, com a mesma intensidade - a minha casa.

Um dia atribulado, um jantar com amigos e finalmente chego a casa, já tarde, com o vinil debaixo do braço, pronta para fazer aquilo por que esperei ansiosamente todo o dia - pô-lo a tocar.

E é essa a magia da música... quando mais um dia chega ao fim e pensamos que já nada dele pode restar, de repente, tudo faz sentido. Aconchegada no escuro da noite, todo o vazio que se possa sentir é preenchido por um sem fim de emoções, uma combinação milagrosa de notas, ritmos, acordes e vozes que aquecem qualquer sala, qualquer coração e varrem qualquer pensamento, deixando-nos livres, leves, em paz.

Essa é a magia que a música exerce sobre mim, sempre que preciso encontrar-me, procuro-me nela.

É essa mesma magia que me leva a ligar o pc a esta hora da noite, como tantas outras vezes o fiz, e continuar a encontrar-me neste blog, neste pedacinho de mim, através da escrita.

E é com nostalgia e até uma certa tristeza que escrevo mais um post pois apercebo-me o quanto gosto de fazê-lo e há quanto tempo não o fazia. Opto por não gastar energias a pensar nos motivos pelos quais o tempo não se multiplica como e quando eu gostaria ou de que forma o mesmo deveria ser empregue. Prefiro antes falar-vos da voz que me faz companhia esta noite e a quem devo este post - Donny Hathaway.

Conheci Donny com o seu "Little Ghetto Boy"...



Continuei a vaguear por "The Ghetto"...




... perdi-me nele e nunca mais quis de lá sair! Tornámo-nos bons amigos...




Nascido em 1945, natural de Chicago, este cantor que deambula pelo soul, blues, gospel ou jazz como se todos os estilos juntos fossem apenas um, começou desde cedo a dar música à sua alma. Aos três anos de idade já fazia parte dos coros da igreja na qual a sua avó, Martha Crumwell, era cantora de gospel profissional. Nos estudos dedicou-se à música e na faculdade, em Washington, conhece aquela que seria a parceira da sua vida - Roberta Flack. (Esta senhora, a seu tempo, também terá o seu merecido post)


Iniciou a sua carreira como compositor e produtor na Curtom Records, trabalhando para artistas como Curtis Mayfield (seu fundador), The Staple Singers ou Aretha Franklin, mas foi sob a alçada da Atlantic Records que em 1970 lançou o seu primeiro grande single - "The Ghetto Pt 1". Um cocktail afrodisíaco de ritmos urbanos, afro-americanos, que percorrem as ruas sombrias de um ghetto preenchendo-as de vida e cores quentes.

"Everything Is Everything" é assim o seu primeiro disco no qual este tema está incluído e que, curiosamente, conta com a colaboração da sua avó nas vozes do coro e na guitarra. Em 1971 é lançado um novo trabalho, "Donny Hathaway", que reúne maioritariamente um conjunto de covers de soul, pop e gospel e, um ano mais tarde, é editado o primeiro álbum de duetos com a sua grande amiga, Roberta Flack.


No mesmo ano é lançado também o disco ao vivo que agora toca cá em casa - "Live". Dois concertos, num lado Hollywood, no outro Manhattan, e tornam-o num dos vinis mais valiosos da minha colecção.

O seu quarto e último álbum de estúdio é "Extension of a Man" (1973), o que nos antevê uma carreira curta... curta demais para um talento e uma voz como a de Donny.

Como tantos outros génios com almas atormentadas, foi referido que o cantor sofria de perturbações mentais que o levariam a cometer suicídio, atirando-se da janela de um hotel com apenas 33 anos. Algo macabro os finais trágicos que assolaram algumas vozes da música soul mas que, ainda assim, tornaram-se imortais. Fins igualmente trágicos e prematuros tiveram, por exemplo, Sam Cooke, Otis Redding ou Marvin Gaye.




Um ano após a sua morte, em 1980, foi ainda lançado o segundo disco de duetos com Roberta Flack, no qual o último tema a ser incluído por Donny seria "You Are My Heaven". Esperemos que o mesmo tenha finalmente encontrado o seu céu e nele descanse em paz.

Eu, com algum sono, mas com muita satisfação, despeço-me de mais um post, na esperança que o próximo não demore tanto a vir.

A minha inspiração, paz de espírito, alegria, vem daqui... por isso digo-te, thank you master, for my soul.

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