terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eu e o Soul


Volta e meia gosto de fazer estas introspecções em relação a mim, ao Groove e ao que nos tem acontecido ao longo destes dois anos (cumpridos no final de Julho) e não resisto em partilhar convosco. 

Na verdade eu escrevo muito, sempre escrevi, mas pronto, nem todos os textos se convertem em posts... Este, contudo, achei justo partilhar convosco pois, sejam amigos, leitores, ouvintes, conhecidos ou desconhecidos, ajudam a manter vivo este projecto que me é tão querido e especial, dão-me força e alento para continuá-lo, estimulam a minha criatividade, a minha paixão pela música e contribuem desta forma para a minha felicidade uma vez que, o Groove faz parte dela. Estou-vos por isso grata e nada melhor que transmiti-lo por palavras, com música. I wanna thank you for lettin' me be myself...



Tem sido relativamente cíclica a evolução do Groove. Fazendo uma análise retrospectiva, tudo começou neste blogue - a forma que arranjei de partilhar a minha paixão com o mundo. Alguns meses depois surgiram as críticas a álbuns e concertos para o Palco Principal, uma escrita não tão pessoal e descontraída, mas igualmente prazenteira, que me permitiu aprender e evoluir. No final do primeiro ano, surge então a oportunidade de lançar-me num programa de rádio. Algo assustador ao início, como todos os desafios que me têm sido propostos nestes territórios desconhecidos para mim, mas aos quais me atiro de cabeça, não fosse o sentimento que me move o mais forte de todos eles: o amor que tenho pela música.

Por ser um desafio novo e que iria exigir mais do meu tempo, este segundo ano foi dedicado mais à rádio em detrimento da escrita. Tem sido bom, muito bom, explorar esta vertente que, muito sinceramente, não pensava vir a concretizar e, embora já me sinta mais ‘confortável’ em frente ao microfone, continua a ser a produção do programa o que mais me entusiasma fazer - a escolha das músicas, do alinhamento, contar-vos as suas histórias e dos seus artistas, ideias para programas temáticos, etc. Em 45 edições já tivemos programas dedicados a covers, bandas sonoras, trios famosos, especiais de Natal e Bobby Womack, o nascimento do Groove Brasil e uma entrevista ao cantor NBC, o primeiro convidado do programa.

Foi por isso um ano extremamente rico, que só me dá vontade de mais - mais música, mais criatividade, mais conhecimento, mais experiências novas.

Ao longo deste percurso, há contudo uma pergunta que muitas das pessoas novas que se cruzam na minha vida me fazem – como, quando e porquê esta paixão pelo soul?

Ao contrário de muitos que cresceram ouvindo estas músicas em casa, porque os seus pais assim o faziam, a minha paixão pelo soul revelou-se tarde, numa idade já adulta, mas penso que no tempo certo. Surgiu na altura em que aprendi a conhecer-me e, lentamente, fui formando a minha personalidade, na qual esta música foi-se encarnando como parte dela.

Sempre gostei de música, isso era algo latente e o meu interesse por ela sempre existiu. Mas foi aos vinte e poucos anos, no processo normal de crescimento, em que se conhece pessoas novas que nos fazem aprender e nos ajudam a abrir a cabeça para o mundo, que as primeiras vozes quentes do soul me foram apresentadas, despertando-me o interesse. Lembro-me da primeira vez que ouvi Otis Redding, o encantada que aquela voz grave e rouca me deixou; e Nina Simone, que jurava ser um homem a cantar! (lol) Depois vieram outros e com eles o Marvin, que me arrebatou por completo, deixando-me irremediavelmente apaixonada pela sua música e 'alma'.


Foi uma descoberta lenta, natural e continua. Fui-me apaixonando aos poucos e à medida que o tempo passava. Quanto mais ouvia, quanto mais pesquisava e mais descobria sobre a história desta música, mais me fascinava. E com o soul, todos os estilos à sua volta foram ganhando mais força, como o R&B, o hip hop, o neo-soul e até mesmo o blues e o jazz.

São deveras muitos os atributos que adoro no soul… as suas vozes maravilhosas e únicas, os seus ritmos envolventes, as mensagens das suas letras… é verdadeiramente um estilo muito quente e apaixonado, puro em emoções, que apela ao coração e aos sentidos… o groove, um simples estalar de dedos… aquilo que nem todos possuem, que não se explica, sente-se.

Mas o que muitos não sabem sobre o soul e constitui também um motivo bem forte da minha adoração é a sua história.

Há precisamente um ano, estava eu igualmente hibernada no meu calmo e aprazível Algarve mas, ao contrário das ‘férias lazy’ que habitualmente costumo ter, passei essas duas semanas numa missão que, incrivelmente, me fez passar mais tempo em frente ao computador do que na praia (por livre vontade)!

Passei parte dos meus dias preparando a apresentação que viria a realizar no estúdio Teambox (LxFactory), numa noite dedicada ao Groove your Soul, no início de Setembro. Além da oportunidade de poder partilhar o meu projecto, esta apresentação possibilitou-me também aprender e conhecer ainda mais acerca da história e do passado fascinante desta música.  

Muito resumidamente, com raízes no gospel e nas ‘work songs’ (canto dos escravos e mais tarde dos operários), o soul nasceu no final dos anos 50 e teve a sua força nas décadas de 60 e 70. Mais do que um estilo de música muitas vezes conotado como ‘música de negros’, a sua origem e o seu papel foi fundamental na história de muitas sociedades afro-americanas nos EUA, na luta contra o racismo e pela igualdades de direitos.

A música soul serviu como uma forma de liberdade de expressão, de protesto numa revolução não violenta. Marchas, discursos e manifestações fizeram-se ouvir ao som de músicas que se tornaram hinos como ‘A Change Is Gonna Come’ (Sam Cooke), “Keep On Pushing” (Curtis Mayfield & The Impressions) ou ‘What’s Going On’ (Marvin Gaye).

Cantores como Curtis Mayfield ou Nina Simone foram figuras inspiradoras e exemplos de força, orgulho e determinação para muitas gerações de jovens que não acreditavam ou temiam pelo seu futuro. 




Não foi uma época fácil e, talvez por isso, as suas letras e as suas vozes eram tão sentidas, tão sinceras e tão apaixonadas. O seu papel 'revolucionário' só faz com que a minha admiração cresça ainda mais.

Podia passar horas, a noite inteira, escrevendo-vos sobre este sentimento/tema… mas o post já vai longo e penso que já deu para responder à pergunta... :)

Estou ansiosa por regressar em Setembro.
Até lá soul lovers.

2 comentários:

  1. Obrigada pela partilha!

    Realmente o soul conquista-nos sem darmos por isso e ainda bem que assim é.

    Nada se compara àquele arrepio que se sente quando a música nos toca desta forma. Hit me with music, como dizia o caro Nesta (vulgo, Bob Marley)!

    Beijinhos da Susana (a dos concertos em Londres...)

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    1. Obrigada eu pelo teu sempre bom feedback, Susana! :)
      Um beijinho!

      One love ;)

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