terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Robert Glasper - Black Radios

Já há algum tempo que queria escrever um post sobre Robert Glasper no Groove. A par de José James, considero-o um dos músicos mais influentes e talentosos do neo-soul actual! A sua base de jazz, misturada com a essência do soul, os beats do hip hop e o calor do R&B dão-lhe uma sonoridade rica e singular. Esta semana escrevi mais uma review para o Palco Principal sobre o seu último trabalho - "Black Radio 2". Então pensei: porque não aproveitar e levar o Robert e os seus Black Radios também para o Groove? E pronto, aqui estão eles, o 1, 1.5 e o 2, por ordem decrescente! :)


"(...) Mais subtil do que o anterior, “Black Radio 2” precisa de ser ouvido com mais concentração. Robert dedica-se mais ao soul bem cantado, passando o seu piano para segundo plano. A mudança na ‘guest list’ é um bom exemplo. Nomes maiores, mais comerciais e conhecidos do grande público (Norah Jones, Snoop Dogg e Emeli Sandé), ainda que acompanhado dos suspeitos do costume (Common, Lupe Fiasco e Jill Scott). As ‘performances’ são agradáveis e as interpretações sem falhas, contudo, com um défice de criatividade e exigência, se comparadas com alguns temas do álbum anterior. Temos retidão nas melodias, ao contrário da improvisação oblíqua no seu antecessor. (...)"

"(...) Cheira bem este tema e até parece simples na voz mágica de Jill Scott e no embalo repetitivo do piano de Glasper mas, na verdade, e sem darmos conta, lentamente se apodera de nós, entorpecendo-nos os sentidos. (...)"


"(...) A fechar o álbum, primeiro ouvimos o R&B cool e descontraído da escocesa Emeli Sandé em “Somebody Else” e, por fim, o espiritual “Jesus Children”, cover de Stevie Wonder graciosamente interpretada por Lalah Hathaway. Um maravilhoso final de emissão para este “Black Radio 2”, que, embora na sombra do anterior, não deixa de ser uma boa experiência, conferindo ao seu autor uma posição confortável na vanguarda dos músicos/produtores de jazz do momento. "



Se puderam ler a review de "Black Radio 2", certamente perceberam que este álbum não me tocou tanto como o anterior. É que eu conheci Robert Glasper com o seu primeiro Black Radio e foi este que, efectivamente, em conquistou. É este que eu ponho a tocar no meu gira-discos quando me apetece relaxar, desconectar, ou criar um ambiente 'cool' num jantar descontraído entre amigos. É um álbum perfeito e envolvente da primeira à última música! 
Para criar esta obra-prima (pela alçada da Blue Note e que inclusivamente lhe valeu um Grammy!) este produtor/pianista de jazz americano contou com a ajuda de alguns amigos preciosos que deram voz às suas canções. E é precisamente estas sinergias que, segundo Glasper, fazem falta ao presente panorama musical! Eu concordo com ele e louvo-lhe a iniciativa! 

Logo no início da emissão deste 'rádio negro', encontramos a magnificente Erykah Badu com o tema "Afro Blue". Mas, curiosamente, prefiro mostrar-vos outra versão desta música e assim aproveito para falar do igualmente brilhante EP de remisturas editado posteriormente - "Black Radio Recovered: The Remix EP".


Esta versão, a meu ver, conta com ainda mais 'sal' do que a original graças ao swag adicional do hip hop man, Phonte. E agora que me lembro, até foi uma das minhas escolhas para a primeira edição do Groove your Soul na Rádio Autónoma! :)

Este EP, tal como o álbum, é uma mina de ouro! Outro tema fantástico que podemos ouvir e que se trata de uma remistura, não do Black Radio mas sim dos Little Dragon por Questlove, é este "Twice", no qual encontramos a Solange Knowles a cantar com os The Roots.


Mas regressemos ao primeiro "Black Radio", do qual apetece-me mostrar e falar de cada música! 
"Cherish the Day", original de Sade, torna-se igualmente irresistível na voz sedutora de Lalah Hathaway (filha do grande Donny Hathaway) que, tal como já foi mencionado, participa também no cover de Stevie Wonder no "Black Radio 2".


Bilal, seu amigo e nosso 'soul brother', participa também em dois dos seus temas: "Always Shine" e "Letter To Hermoine" (David Bowie). Dois registos diferentes, um mais apimentado pelo hip hop de Lupe Fiasco, o outro mais jazz breeze e introspectivo. Ambos deliciosos de ouvir.

"Ah Yeah" é outro bombom. Uma das minhas músicas preferidas do álbum que conta com Musiq Soulchild e Chrisette Michele. O calor do R&B a invadir a sala, não fosse esta a canção 'babymaker' do álbum.


Mas há mais, muito mais por descobrir neste 'rádio negro'. Temos a voz hipnótica de Meshell Ndegeocello que se perde no improviso de "Consequence Of Jealousy", o hip hop contagiante de Mos Def e o cover do mítico "Smells Like Teen Spirit" (Nirvana).  
Enfim, ainda que me pergunte o porquê do meu amado José James não constar em nenhum destes Black Radios (pois o Robert até participou no seu último trabalho), escusado será dizer para ouvirem este álbum! Aliás, os 3! Pois cada um deles tem o seu encanto.

Sintonizem-se nos Black Radios! ;)





4 comentários:

  1. Olá Lucélia!

    Vi Robert Glasper Experiment ao vivo há 2 semanas aqui em Londres e que bela experiência foi...

    Se já tinha uma grande admiração pelo músico e a sua genialidade em fazer do jazz um estilo transversal ao adaptá-lo subtilmente ao neo-soul/hip-hop/RnB, ontem tive a prova viva de que ele é um dos que o faz da melhor forma.

    O act de abertura foi Vula, que já trabalhou com os Basement Jaxx e fez um trabalho fenomenal a aquecer o público para o que estava por vir. Não deve ter mais de 1.50m esta senhora, mas tem um vozeirão enorme!! Curiosamente, ela tinha estado no concerto do Robert Glasper o ano passado e, juntamente com uma amiga, conseguiram chamar a atenção do pianista que lhes passa o microfone num dos improvisos que faz parte do seu concerto - e não é que elas dão um show!!! Está aqui o vídeo:
    https://www.youtube.com/watch?v=NL_01wbyLmM

    Ora bem, este ano a Vula já tinha comprado o bilhete para assistir ao concerto novamente, quando por supresa sua, 3 dias antes recebe uma mensagem do próprio Glasper a perguntar se ela não queria ser o opening act!! Mega upgrade, hein?!

    Passando ao Sr. Glasper e cia - AMAZING!!! Entra em palco super descontraído, com um ar de quem faz aquilo com uma perna às costas. Fala imenso com o público, que é bastante receptivo. Avisa-nos de antemão que não haverão guests e acho que estava tudo tão deslumbrado por estar na sua presença que nem se deu grande importância a isso, mesmo sabendo que ele é um artista de colaborações.

    Abriu o concerto da mesma forma como começa o Black Radio II e nos primeiros acordes a atenção do público estava inteiramente dominada! Casey Benjamin é um King!!! Para além de ter o penteado mais cool de sempre, é um saxofonista e vocoderist (tive de pesquisar isto!) exímio. Grande parte do sucesso da Experiment deve-se a este homem. Os efeitos que ele faz, as expressões faciais, o amor que demonstra por cada nota tocada... indescritível! Não estava nada à espera. Depois Glasper tem mais dois monstros nas mãos: o baixista e o baterista são de outro mundo. Todos eles tiveram direito a solos, e o do baterista valeu-lhe uma ovação de pé. Brilhante!

    Ouvimos temas do Black Radio II intercalados com o original e quando começa a tocar o "No Worries" (cantado originalmente pelo meu rico Dwele), não é que o Robert Glasper diz "Raheem come join us on this one." E aparece o Raheem DeVaughn em palco... confesso que pensei estar noutra dimensão por momentos, de tanto que gosto deste cantor e não podia acreditar que ele estava ali. Um voz ímpar - soa como nos cd's. O público vibrou! Ali percebemos que o Sr. Glasper tinha umas quantas cartas na manga.

    Para não me prolongar muito - o Calls foi interpretado pela BRILHANTE Laura Mvula. Claro que ver a Jill Scott seria épico para mim, mas a nossa Laura esteve muitíssimo bem. Tem um voz cheia e quente e uma presença em palco que se faz sentir. De seguida, veio Emeli Sandé que interpretou 'Somebody Else', que também faz parte do Black Radio II. Não estava à espera que cantasse tão bem ao vivo. Tem uma voz tão "limpa", doce, mas cativante ainda assim. Fiquei abismada.

    A parte que mais gostei no entanto, foi o improviso que se meteu ali pelo meio. Brincalhão como é, Glasper começa a tocar coisas aleatórias no piano que leva o público às gargalhadas, conta histórias sobre quando ele e o Casey experimentaram marijuana e estavam high em palco enquanto tentantam tocar "Say Yes" (adaptado dos Floetry). E foi com esta deixa que começaram a alternar entre esta e a "Oh Yeah" com a ajuda do público, mas Glasper chama o Raheem ao palco novamente para ajudar com o improviso e que coisa maravilhosa saiu dali!! Mais orgânico impossível.

    Num concerto que demorou praticamente 2 horas, não faltou boa música, vozes e interpretações brilhantes, a constante preocupação de interagir com o público e tudo isto valeu-lhes uma merecida ovação de pé no final.

    Peço desculpa pela extensão do report, mas dá para perceber o porquê do meu entusiasmo certamente :)

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    1. Bem... antes de mais, MUITO OBRIGADA por esta partilha!!!! :)))
      Não sei o teu nome, mas deu claramente para sentir o teu amor pela música!!
      Gostei muito de ler o teu report e, ao mesmo tempo, fiquei cheia de inveja!! Eheh
      Robert Glasper é um excelente músico e aparenta mesmo ser um porreiro! :) Daqueles músicos descontraídos, que está ali na boa a tocar no seu registo cool e a falar com o público sem qualquer problema/manias. O José James também é muito nessa onda e eu adoro esse tipo de concertos, mais intimistas. Acredito que tenha sido mesmo sensacional, ainda para mais com esses convidados de luxo!!
      Não sei se vives mesmo em Londres, mas se é o caso, de facto, tem as suas vantagens! Há imensos concertos bons que passam por lá e nós nem fazemos ideia... Ainda me lembro do de D'Angelo que vi na Brixton Academy... enfim, mais vele nem estar ao corrente do que se passa aí! Lol
      Depois disto só me resta esperar que o Robert decida vir passear a Portugal!! :) É claro que não poderá contar com os mesmos convidados, mas será garantidamente um bom concerto!
      E sim, Jill Scott seria um sonho... está na minha wishlist!!

      Um grande beijinho e um grande obrigada.
      Continua a vibrar assim com a música! Faz bem à alma! ;)

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    2. De nada! Estava tão entusiasmada que até me esqueci de assinar... o meu nome é Susana e vivo em Londres, sim.

      Tinha visto o teu "contributo" no M e foi assim que cheguei ao teu blogue. De facto, partilhamos o mesmo amor pela música e este foi um dos melhores concertos que assisti nos últimos tempos. Tirando o Bilal que vi o ano passado no Jazz Café, esta foi uma surpresa mais do que positiva.

      Ainda não consegui apanhar o D'Angelo ao vivo mas mal posso esperar pelo dia que isso acontecer. Parece que ele vai dar uma palestra em Maio no Brooklyn Museum, e eu estive lá o ano passado na mesma altura!! Ele anda a fugir-me... lol!

      Bom, o próximo concerto será Justin Timberlake (se não vir nada antes...) e depois passo por aqui ;)

      Obrigada por teres lido e até breve. Beijinhos :)

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    3. Boa Susana! Também conto ir ao do Justin!! :)
      Estás à vontade para partilhar aqui o que quiseres!

      Beijinhos e bons concertos!! :))

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