A
semana passada foi mais uma semana daquelas… trabalho, tudo e mais alguma coisa
para fazer, fim-de-semana fora… enfim, os dias passaram a correr e sobrou-me pouco
tempo para me dedicar ao meu estimado blogue.
Além
de faltar-me tempo, faltou-me também “inspiração”! Normalmente escolho com
facilidade o tema ou o artista sobre o qual quero escrever e vou fazendo as
minhas pesquisas ao longo da semana. Mas na semana passada, estranhamente não
consegui decidir-me sobre o tema do post!
É claro que existem mil e um artistas sobre os quais eu quero escrever… acontece que essa vontade tem que ter hora própria de "acontecer". Tal como referi no inicio deste blogue, gosto que a minha relação com a música seja espontânea. Gosto de escrever de forma natural e consoante aquilo que me vai acontecendo na vida, na semana, no dia a dia, consoante a música que toca no momento.
É claro que existem mil e um artistas sobre os quais eu quero escrever… acontece que essa vontade tem que ter hora própria de "acontecer". Tal como referi no inicio deste blogue, gosto que a minha relação com a música seja espontânea. Gosto de escrever de forma natural e consoante aquilo que me vai acontecendo na vida, na semana, no dia a dia, consoante a música que toca no momento.
Pois
bem, sexta, de caminho a casa, final de mais uma semana, e dou comigo a pensar
no carro: “Que raios! Tenho que escolher um tema para o meu próximo post!”… Eis
que, a minha amiga rádio Oxigénio começa a falar acerca de um trabalho extraordinário que foi recentemente editado e que, por acaso, eu já conheço e
até foi a minha última aquisição em vinil!
E
pronto, foi automático! Pensei: “É claro! Vou escrever um post sobre Tim Maia!”
Tim
Maia é um músico brasileiro que poucos conhecem em Portugal, mas que foi
considerado o Guru do soul e do funk no Brasil, na década de 70. Uma espécie de
Curtis Mayfield com sabor brasileiro, cujo resultado só podia mesmo ser… delicioso.
Estamos
no início da década de 70, numa época onde nomes como Elis Regina, Chico
Buarque, Caetano Veloso ou Milton Nascimento imperam no contexto musical brasileiro.
Artistas que, mediante a sua criatividade e talento, ditam a história da música popular brasileira,
contribuindo de forma determinante na evolução da mesma, fundindo-a com novas
sonoridades como o jazz e o pop.
Estamos
numa época onde a população brasileira divide-se entre os sons tropicais e o rock importado. Na qual ainda existe um certo preconceito racial fazendo com
que, embora surjam músicos Afro-Brasileiros proeminentes, estes sejam
subestimados uma vez que, o protótipo do músico negro brasileiro restringe-se
ao típico cantor de samba.
Nessa
época surge Tim Maia – excêntrico nos seus hábitos, polémico nas suas acções,
controverso nas suas músicas.
Ainda
assim, que beleza é ouvir as suas canções….
Sebastião
Rodrigues Maia nasceu no Rio de Janeiro, em 1942. Em pequeno aprendeu a tocar
guitarra e aos 15 anos formou o sua primeira banda – “The Sputniks”. Adivinhem quem também fazia parte desta banda?? Quem? Quem?? Nada mais, nada menos do que o mítico Roberto Carlos, então seu vizinho.
Aos
17 anos, sem dinheiro e sem saber falar inglês, mudou-se para os EUA, onde viveu com uns primos perto de Nova York.
Na América Tim continuou a sua carreira musical, iniciando também uma vida de marginalidade em paralelo.
Na América Tim continuou a sua carreira musical, iniciando também uma vida de marginalidade em paralelo.
O regresso
ao Brasil nunca esteve nos seus planos, contudo, três anos mais tarde, Tim é condenado por consumo de drogas e roubo, sendo deportado para o Brasil.
De
volta ao Brasil, traz consigo na bagagem as sonoridades soul e funk que absorveu nos Estados Unidos, gravando no final da década de 60 alguns singles em inglês pela mão da editora Fermata. Um desses singles (“These Are the Songs”) é descoberto pela
cantora Elis Regina que, rendida ao seu talento, convida-o para gravar um
dueto dessa canção numa versão em português e inglês.
Este
dueto desperta a atenção do público brasileiro para este afro-man de voz rouca, funcionando como uma catapulta na carreira de Tim Maia,
que no mesmo ano (1970) grava o seu primeiro álbum.
Mas a
minha intenção não é falar-vos dos álbuns de Tim Maia mas sim, de uma
colectânea magnífica que foi concebida pela editora Luaka Bop. Nesta colectânea estão
reunidas as melhores músicas de Tim (tanto em português, como em inglês),
reeditadas e remasterizadas. Falo de: “World Psychedelic Classics 4: Nobody
Can Live Forever: The Existential Soul of Tim Maia”.
A música que abre este post, “Que
Beleza”, é também a música que abre esta colectânea, cujo título
original é "Imunização
Racional” e faz parte do seu álbum de 1974 - “Tim Maia Racional Vol. 1”.
Grande parte das músicas reunidas neste trabalho fazem parte da
Era “racional” de Tim Maia. Passo a explicar - quando vos disse que este cantor
era excêntrico, não estava a enganar-vos… Acontece que no meio da década de 70, sem
se saber bem porquê, Tim converteu-se a uma seita religiosa de nome “Cultura
Racional”. Esta seita defendia que nós, seres-humanos, provínhamos de outro planeta e
que estávamos na Terra para sofrer, mas que poderíamos ser purificados através
da leitura de um livro (do qual Tim na altura se fazia sempre acompanhar), com a
finalidade de sermos resgatados por discos voadores provenientes do nosso planeta mãe….
Enfim, coisas à Tim Maia... :)
Durante esse período de “iluminação”, além do seu
livro como acessório imprescindível, Tim vestia-se de branco, tirou a barba, deixou o álcool, drogas e carnes
vermelhas e gravou temas fantásticos como estes:
O Caminho do Bem
Bom Senso
Mas
não é só de doutrinas religiosas que é composto o soul de Tim Maia. O mesmo
também nos revela um soul activista, transmitindo-nos mensagens de
amor in a very smooth way, como por exemplo com este "Let's Have a Ball Tonight”.
“There are so many politicians
Trying hard to find the way
And peace is not so far
And yet, it seems that nobody can see that
Trying hard to find the way
And peace is not so far
And yet, it seems that nobody can see that
Love is all that you're needing
Love is all that you have to do
Love is really the answer
Why waste time with war?”
Love is all that you have to do
Love is really the answer
Why waste time with war?”
As baladas
também estão presentes e de que forma! Escutem com atenção esta maravilhosa "Where Is My Other Half" e
sintam todo o amor e mágoa na voz de Tim. Percebam a forma como ele amaciou
a sua voz rouca e grave nesta música, deixando-a tão doce e quente que nos derrete por
completo…
Em “Ela Partiu” Tim continua a cantar o seu desgosto
amoroso… e que bem fazem os desgostos amorosos aos artistas! Como lhes inspiram... fantástico este tema.
Funk! Funk! Funk! Tanto e tão bom funk que este homem tem
para nos dar!! Ora suave, ora mexido,
qualquer um deles sabe bem, qualquer um é bem feito… deixo-vos um de cada género!
Nobody Can Live Forever
Do Leme ao Pontal
A sua morte, como não podia deixar de ser, foi prematura e um espelho do que foi a sua vida. Tim faleceu aos 55 anos com um ataque cardíaco, aquando do seu concerto no Teatro Municipal de Niterói (1998).
Ainda assim, penso que Tim desfrutou por demais da sua vida… vivendo-a intensamente e de forma bem-disposta, deixando um legado precioso à música brasileira. Simplesmente, um génio!
"I don't burn, I don't snort, and I don't drink. My only problem is that sometimes I lie a little."
Tim Maia
Excelente post.
ResponderEliminarTim Maia é um dos melhores artistas da música brasileira, em minha opinião. A sua vida pessoal foi, de facto, repleta de aventuras e desventuras. Mas, apesar de todas elas, deve ser lembrado pela qualidade da música.
Obrigada César!! :) Concordo plenamente!
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