domingo, 17 de julho de 2016

Kendrick Lamar ao vivo no SBSR: I really be back



Remember these words: I... really... be back !!!

Foram estas as palavras com que o rei, Kendrick Lamar, se despediu da multidão estarrecida que ontem se encontrava no MEO Arena, no fecho de mais uma edição do Super Bock Super Rock ou, devo dizer, Super Bock Super Hip Hop? Este estilo, incompreendido por alguns mas que, pouco a pouco e devido a artistas como o Kendrick, começa a ganhar terreno no nosso país e no mundo inteiro. Sim, para quem tinha dúvidas, foi o hip hop que 'mandou a casa abaixo' num festival que é caracterizado e comandado por outras sonoridades, podendo por isso (e essa é também a minha esperança) vir a ser considerado igualmente um estilo de massas.

A noite que já estava quente acabou ao rubro e para isso também contribuíram os nossos Orelha Negra, num concerto muito bem conseguido e encadeado, onde todas as sonoridades que nos fazem feliz, o soul, o hip hop, o funk, juntaram-se harmoniosamente nos beats fortes dos Orelha, para nos deixar logo bem acesos para o espectáculo que se adivinhava.

Os festivaleiros e míticos De La Soul, vieram logo a seguir para assegurar que se mantinha a festa. The party is over here!! Deambulavam eles de um lado ao outro do palco, com todo o seu groove e swag, para nos fazer vibrar e manter aquele braço no ar. Na verdade, eles não tinham muito que se preocupar pois 'the party was everywhere´! Em qualquer recanto daquele MEO Arena sentia-se a boa energia no ar. Estávamos prontos.

Look both ways before you cross my mind.

Foram estas palavras da autoria de George Clinton, arquitecto do funk, por detrás de bandas como Parliament e Funkadelic, que serviram de fundo a um concerto que viria a ser... apoteótico! 

Kendrick Lamar, 29 anos, de Compton chega-nos este génio que com o seu tremendo talento tem vindo a revolucionar a visão e a história do hip hop no mundo. Já tinha visitado o nosso país em 2014, no âmbito do NOS Primavera Sound, mas é com 'To Pimp a Butterfly' debaixo do braço, considerado uma obra-prima por muitos (e por mim), que pisa o palco Português novamente. O hip hop já não é somente fat beats e poesia em forma de rap. O Hip Hop de Kendrick é soul, funk, jazz e tudo mais que ele quiser. É puro e renovado ao mesmo tempo. É mensageiro, tal como em tempos outros génios pródigos assim o foram (Tupac). E é por tudo isto e por toda esta bagagem de boa música, que o público português o esperava enlouquecido, ansioso por o abraçar. Assim foi.

O nosso homie de Compton, que cedo percebeu: não estava assim tão longe de casa, percorreu todos os seus trabalhos, dando-nos exactamente aquilo que nós queríamos ouvir. Desde o mais recentes, 'Untitled 07', até ao seu primeiro EP (2009) muitos foram os temas que nos fizeram vibrar, saltar, cantar e manter o braço sempre lá no ar. De 'Good Kid, M.A.A.D. City' ouvimos 'Backseat Freestyle', 'Money Trees', 'Swimming Pools' e claro, 'Bitch, Don't Kill My Vibe'. Impossível matar aquela vibe maravilhosa que se estava a sentir, alastrada por todo o recinto. Tanto que fizemos questão de o demonstrar. É nestas alturas que muitos artistas percebem de que bom material é feito o público português. Um dos pontos altos do concerto foi, precisamente, ver Kendrick Lamar incrédulo durante quase 5 minutos, a olhar, visivelmente emocionado, aquele mar de gente a gritar por ele e para ele, a plenos pulmões. 'Can't Hide Love', cantavam-nos os Earth, Wind & Fire, cuja batida foi a introdução deste concerto e nós assim o fizemos, deitando tudo cá para fora. Kendrick confirmou: 'It's love'. Foi uma bela surpresa para ele que, claramente, não estava à espera desta calorosa recepção, resultando também para nós numa prenda antecipada: a sua promessa de regressar.

Recuperados daquele momento arrepiante, ele e a sua banda que, por sinal, tão bem o acompanhou, composta por guitarra, bateria, baixo e teclas, também eles foram donos e senhores de uma excelente performance, merecendo, por isso, aquela efusiva ovação; regressaram para alguns sucessos do seu último álbum. E enquanto o mundo parece um pouco louco lá fora, diz-nos o cantor, cá dentro ao menos celebremos a vida. E assim o fizemos, com o tema 'i', cantando bem alto: I love myself!!! Estamos todos juntos, numa raça sem cor, unidos na esperança por um mundo melhor.

Outras pérolas de 'To Pimp a Butterfly' puderam ser ouvidas ao longo do concerto, como 'King Kunta', 'Complexion', 'These Walls', 'For Sale', 'Hood Politics' e 'For Free', dedicada a uma felizarda da primeira fila, e na qual a performace de Kendrick foi sublime, parecendo também ele um instrumento endiabrado no meio daquela confusão jazz.

Um concerto curto (1:10h) para as vontades de muitos, mas intenso, e que ainda assim teve direito a um encore, o derradeiro 'Alright'. O público ao rubro, a queimar os últimos cartuchos e com uma sede de mais que, segundo o mesmo, será saciada num prometido regresso do cantor para um espectáculo a solo e sem os minutos contados. Assim o esperamos, mas até lá, Kendrick, podes ter a certeza, ficámos todos Alright!

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