Volta e meia gosto de fazer estas introspecções em relação a
mim, ao Groove e ao que nos tem acontecido ao longo destes dois anos (cumpridos
no final de Julho) e não resisto em partilhar convosco.
Na verdade eu escrevo
muito, sempre escrevi, mas pronto, nem todos os textos se convertem em posts... Este, contudo, achei justo partilhar convosco pois, sejam amigos, leitores,
ouvintes, conhecidos ou desconhecidos, ajudam a manter vivo este projecto que me
é tão querido e especial, dão-me força e alento para continuá-lo, estimulam a
minha criatividade, a minha paixão pela música e contribuem desta forma para a
minha felicidade uma vez que, o Groove faz parte dela. Estou-vos
por isso grata e nada melhor que transmiti-lo por palavras, com música. I wanna thank you for lettin' me be myself...
Tem sido relativamente cíclica a evolução do Groove. Fazendo uma
análise retrospectiva, tudo começou neste blogue - a forma que arranjei de partilhar a minha paixão com o mundo. Alguns meses depois surgiram as críticas a álbuns
e concertos para o Palco Principal, uma escrita não tão pessoal e descontraída,
mas igualmente prazenteira, que me permitiu aprender e evoluir. No
final do primeiro ano, surge então a oportunidade de lançar-me num programa de
rádio. Algo assustador ao início, como todos os desafios que me têm sido propostos
nestes territórios desconhecidos para mim, mas aos quais me atiro de cabeça,
não fosse o sentimento que me move o mais forte de todos eles: o amor que tenho
pela música.
Foi por isso um ano extremamente rico, que só me dá vontade
de mais - mais música, mais criatividade, mais conhecimento, mais experiências
novas.
Ao longo deste percurso, há contudo uma pergunta que muitas
das pessoas novas que se cruzam na minha vida me fazem – como, quando e
porquê esta paixão pelo soul?
Ao contrário de muitos que cresceram ouvindo estas músicas em casa, porque os seus pais assim o faziam, a minha paixão pelo soul revelou-se
tarde, numa idade já adulta, mas penso que no tempo certo. Surgiu na altura em
que aprendi a conhecer-me e, lentamente, fui formando a minha personalidade, na
qual esta música foi-se encarnando como parte dela.
Sempre gostei de música, isso era algo latente e o meu
interesse por ela sempre existiu. Mas foi aos vinte e poucos anos, no processo
normal de crescimento, em que se conhece pessoas novas que nos fazem aprender e
nos ajudam a abrir a cabeça para o mundo, que as primeiras vozes quentes do soul me foram apresentadas, despertando-me o interesse. Lembro-me da primeira
vez que ouvi Otis Redding, o encantada que aquela voz grave e rouca me deixou; e Nina Simone, que jurava ser um homem a cantar! (lol) Depois vieram outros e com
eles o Marvin, que me arrebatou por completo, deixando-me irremediavelmente apaixonada pela sua música e 'alma'.
Foi uma descoberta lenta, natural e continua. Fui-me
apaixonando aos poucos e à medida que o tempo passava. Quanto mais ouvia,
quanto mais pesquisava e mais descobria sobre a história desta música, mais me
fascinava. E com o soul, todos os estilos à sua volta foram ganhando mais
força, como o R&B, o hip hop, o neo-soul e até mesmo o blues e o jazz.
São deveras muitos os atributos que adoro no soul… as suas
vozes maravilhosas e únicas, os seus ritmos envolventes, as mensagens das suas
letras… é verdadeiramente um estilo muito quente e apaixonado, puro em emoções,
que apela ao coração e aos sentidos… o groove, um simples estalar de dedos…
aquilo que nem todos possuem, que não se explica, sente-se.
Mas o que muitos não sabem sobre o soul e constitui também um motivo bem forte da minha adoração é a sua história.
Há precisamente um ano, estava eu igualmente hibernada
no meu calmo e aprazível Algarve mas, ao contrário das ‘férias lazy’ que
habitualmente costumo ter, passei essas duas semanas numa missão que, incrivelmente,
me fez passar mais tempo em frente ao computador do que na praia (por livre vontade)!
Passei parte dos meus dias preparando a apresentação que viria a realizar no estúdio Teambox (LxFactory), numa noite dedicada ao Groove your Soul, no início de Setembro. Além da oportunidade de poder
partilhar o meu projecto, esta apresentação possibilitou-me também aprender e
conhecer ainda mais acerca da história e do passado fascinante desta música.
Muito resumidamente, com raízes no gospel e nas ‘work songs’ (canto dos escravos
e mais tarde dos operários), o soul nasceu no final dos anos 50 e teve a sua
força nas décadas de 60 e 70. Mais do que um estilo de música muitas vezes
conotado como ‘música de negros’, a sua origem e o seu papel foi fundamental na
história de muitas sociedades afro-americanas nos EUA, na luta contra o racismo
e pela igualdades de direitos.
A música soul serviu como uma forma de liberdade de
expressão, de protesto numa revolução não violenta. Marchas, discursos e manifestações
fizeram-se ouvir ao som de músicas que se tornaram hinos como ‘A Change Is
Gonna Come’ (Sam Cooke), “Keep On Pushing” (Curtis Mayfield & The
Impressions) ou ‘What’s Going On’ (Marvin Gaye).
Cantores como Curtis Mayfield ou Nina Simone foram figuras
inspiradoras e exemplos de força, orgulho e determinação para muitas gerações
de jovens que não acreditavam ou temiam pelo seu futuro.
Não foi uma época fácil e, talvez por isso, as suas letras e as suas vozes eram tão sentidas, tão sinceras e tão apaixonadas. O seu papel 'revolucionário' só faz com que a minha admiração cresça ainda mais.
Podia passar horas, a noite inteira, escrevendo-vos sobre este sentimento/tema… mas o post já vai longo e penso que já deu para responder à pergunta... :)
Estou ansiosa por regressar em Setembro.
Até lá soul lovers.
Obrigada pela partilha!
ResponderEliminarRealmente o soul conquista-nos sem darmos por isso e ainda bem que assim é.
Nada se compara àquele arrepio que se sente quando a música nos toca desta forma. Hit me with music, como dizia o caro Nesta (vulgo, Bob Marley)!
Beijinhos da Susana (a dos concertos em Londres...)
Obrigada eu pelo teu sempre bom feedback, Susana! :)
EliminarUm beijinho!
One love ;)