Tal como na vida real, também no cinema a banda sonora original (BSO) torna-se num ingrediente fundamental para que a formula funcione e o resultado seja perfeito. Algumas tornam-se imortais, tão ou mais mediáticas que o próprio filme, jingles e sons que automaticamente associamos a algum nome ou personagem, e outras podemos nem dar conta, mas têm a capacidade tremenda de, subtilmente, dar um brilho especial aos filmes.
Sendo o cinema (tal como a música) uma das minhas artes preferidas, é natural que preste especial atenção às bandas sonoras que o abrilhantam. Como tal, aproveitando a cerimónia dos Óscares que decorre esta noite e o último Groove your Soul na Rádio Autónoma que foi igualmente dedicado a este tema, porque não escrever também um post sobre bandas sonoras com groove?
Este mítico começo do filme "Jackie Brown" (1997), de Quentin Tarantino, remete-nos para uma das eras do cinema onde as bandas sonoras tiveram mais 'groove' e um impacto directo na música soul - a Blaxploitation.
A Blaxploitation foi um movimento cinematográfico
norte-americano que surgiu no início da década de 70, emergente como um
subgénero da categoria chamada "Explotation films" –
filmes com baixos
orçamentos e pouco mérito artístico, obtendo algum sucesso explorando temas fáceis e sensacionalistas
(sexo, violência, romance, um artista famoso), os chamados filmes de série B.
Os cenários destes filmes eram habitualmente os bairros pobres americanos (Ghettos, Harlem por exemplo) e as suas bandas sonoras eram caracterizadas pelo soul e o funk, com uma forte predominância dos baixos e das guitarras, mas mais complexas do que os sons que passavam nas rádios, não sendo uma música tão comercial por recorrer a instrumentos pouco característicos no estilo funk, como flautas e violinos.
Inicialmente dirigido para um
público negro, os seus filmes e as suas músicas rapidamente ultrapassaram as barreiras raciais e tornaram-se apelativos para todos os públicos.
Algumas bandas sonoras e seus cantores ficaram associadas ao movimento da Blaxploitation como Bobby Womack e "Across 110th Street" (1972), Isaac Hayes e "Shaft" (1971), Willie Hutch e "Foxy Brown" (1974) (cuja protagonista, Pam Grier, é a mesma de "Jackie Brown"), Curtis Mayfild e "Superfly" (1972) e Marvin Gaye e "Trouble Man" (1972).
Hoje em dia já não se fazem bandas sonoras como estas mas existem alguns realizadores que continuam a inspirar-se na Blaxploitation como é o caso de Tarantino, o mais flagrante. E, falando nele, é impossível não referir "Pulp Fiction" (1994) e a sua inesquecível banda sonora! Desde Chuck Berry (o tema da mítica cena de dança entre John Travolta e Uma Thurman) a Kool & The Gang, é desta música que eu nunca me vou fartar...
"American Gangster" (2007), de Ridley Scott, é outro filme que eu adoro não só mas também pela sua magnifica BSO. Nomes como Bobby Womack, John Lee Hooker, The Staple Singers, Dave&Sam, Public Enemy ou Anthony Hamilton andam por lá. Sem esquecer do Common, que também participa, mas como actor.
Mas há um filme pelo qual eu nutro um especial carinho e que desde cedo me marcou, mesmo antes de eu saber reconhecer o mérito da sua banda sonora... é girly, bem sei, mas não deixa de ser encantador, o clássico "Dirty Dancing" (1987).
Não só Otis Redding, mas também The Contours, Solomon Burke, The Ronettes e também o dueto entre Bill Medley e Jennifer Warnes (cujo tema "(I've Had) The Time of My Life" ganhou mais protagonismo), enfeitam esta BSO repleta da música que encantou, se ouviu e dançou naquelas décadas douradas.
Ainda de referir os filmes biográficos: "Ray" (2004) - a vida e a música de Ray Charles retratada com a excelente interpretação de Jamie Foxx, valendo-lhe um óscar; e "Cadillac Records" (2008) - a história desta editora e suas estrelas (como Muddy Waters e Etta James), interpretada por um elenco e uma banda sonora de luxo ao ter nomes como Beyoncé, Mos Def, Nas, Raphael Saadiq e Jeffrey Wright.
No que toca à actualidade, tenho por hábito acompanhar os nomeados aos Óscares e este ano tenho um especial interesse, pois já não me lembrava de uma edição com candidatos tão fortes com esta! "12 Years A Slave", "The Wolf", "Dallas Buyers Club", "Captain Phillips" ou "Her", são todos filmes que me encheram as medidas!
De realçar a BSO de "12 Years A Slave", muito inspirada no blues dos cânticos dos escravos que se entoavam na altura, e onde podemos encontrar todo um firmamento: John Legend, Gary Clark Jr., Alabama Shakes, Alicia Keys, Laura Mvula e Cody ChesnuTT.
"The Butler", embora não estando nomeado para os Óscares, foi um dos meus filmes preferidos de 2013! Além das boas interpretações, em especial a de Oprah Winfrey, que me surpreendeu, toda a temática do filme agradou-me bastante - os feitos históricos que marcaram décadas no país Estadunidense, muitos deles relacionados com o racismo que se vivia, os líderes que o combateram e a música que os acompanhou. Mas pronto, eu sou suspeita...
Para rematar, a sua BSO foi composta pelo português Rodrigo Leão, uma escolha pouco comum nos filmes Hollywoodescos, que mais valor acrescentado lhe trouxe! Na mesma podemos encontrar peças da autoria do Rodrigo e ainda Gladys Knight, Dinah Washington, James Brown e The O'jays, entre outros.
E pronto, esta BSO fica por aqui, mas outras virão!
Até lá, bons grooves e bons filmes! :)
Para rematar, a sua BSO foi composta pelo português Rodrigo Leão, uma escolha pouco comum nos filmes Hollywoodescos, que mais valor acrescentado lhe trouxe! Na mesma podemos encontrar peças da autoria do Rodrigo e ainda Gladys Knight, Dinah Washington, James Brown e The O'jays, entre outros.
E pronto, esta BSO fica por aqui, mas outras virão!
Até lá, bons grooves e bons filmes! :)
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