Já vai algum tempo desde o último post no Groove your Soul... Embora a música continue a fazer parte dos meus dias e absorve-los cada vez
mais, a verdade é que a rádio assumiu claramente a dianteira nesta casa onde tudo começou na
escrita. Ambos têm sido dois processos extremamente interessantes e saborosos de experienciar
e observar. Todavia, seja por palavras, seja por voz, o importante é que continuo a
fazer o mesmo: partilhar música. E o mais curioso é que sinto que recebo mais, do que dou.
É muito bom sentir o apoio e reconhecimento das pessoas,
mesmo quando tal não é esperado ou pretendido. Mais ainda quando vem de pessoas que não me conhecem, existindo apenas uma coisa que nos une: a paixão pela
música.
Acreditem que isso vale cada minuto do meu tempo despendido a
partilhar música. Cada pesquisa, cada texto, cada gravação.
Cada dia que passa é também espantoso assistir, como se de
um filho se tratasse, ao crescimento do meu ‘Groove’. Pouco a pouco ele vai-se espalhando no ar,
deixando um rasto subtil que eu vou encontrando aqui e ali, à medida que as
pessoas se cruzam na minha vida. Deixa-me feliz este meu rebento e só gostava que
aqueles que o ouvem ou lêem se sentissem tão bem quanto eu me sinto ao fazê-lo.
Pois bem, passados alguns dias com escassez de tempo (e, confesso, também de alguma inspiração), eis que o escolhido para mais um post no Groove your Soul
não poderia ter mais ‘alma’ na voz do que o caloroso Al Green!!
Este vinil é, provavelmente, um dos mais ouvidos cá em casa. Eu simplesmente adoro a voz deste cantor! Tão quente e densa, que
parece preencher qualquer espaço vazio por onde passa! A sussurrar, a cantar
normalmente ou em falsete, esta voz agarra-nos de qualquer maneira,
tornando-se única e inconfundível aos nossos ouvidos.
E depois, temos o romance sempre presente na sua música… quem não conhece esta canção, não
pode ficar nem mais um segundo sem o fazer!
É a sua música-estrela, um dos seus maiores êxitos e dos seus temas mais conhecidos, talvez por fazer parte também da banda sonora do mítico “Pulp Fiction”.
Na verdade, é irresistível esta música… tem aquela melodia doce e encantadora, tão
característica de Al Green. É daquelas músicas com a capacidade mágica de nos animar. Dá-nos vontade de dançar e pensar que está tudo bem ou vai
ficar.
No mesmo registo, e também lançada no início dos 70s (esses
anos dourados), temos outro tema que da mesma forma nos aconchega a alma, mesmo quando
a sua letra assim não o diz.
A solidão nunca foi tão boa de se ouvir como nesta música. E,
certamente, quem a ouve não se sentirá tão sozinho.
São muitas as suas músicas que apelam ao coração. “Love and Happiness”
é outra canção preciosa na discografia deste cantor de soul, que já se tornou intemporal. Lançada em 1972, foi posteriormente cobiçada por outros cantores que da mesma fizeram covers. Falo de Etta James ou Al Jarreau, por exemplo. Já em “How Can You Mend a Broken Heart” foi a vez de Al Green ‘roubar’ o tema (e diga-se, muito bem roubado!) aos Bee Gees.
Albert Greene, também conhecido por Al Green ou Reverendo
Al Green, nasceu em 1947, no estado de Arkansas (E.U.A.), e desde cedo enveredou
pelo caminho da música. Primeiro ainda em criança, integrando num grupo com os
seus 9 irmãos ("Greene Brothers") e
mais tarde em estudante (“Al Greene & The Soul Mates”), até assinar a solo
pela ‘Hi Records’, em 1969.
Sob as influências dos seus ídolos na altura - Jackie Wilson, Sam Cooke, Wilson Pickett e James Brown, e após retirar o ‘e’ ao final do seu nome, Al lança o seu primeiro álbum de sucesso – “Al Green Gets Next to You” (1971). Do mesmo faz parte “Tired of Being Alone” e os dois temas que se seguem, dois covers carregados de pura sensualidade: "I Can't Get Next to You" (The Temptations) e "Light My Fire" (The Doors).
Daí em diante foi só somar êxitos. Depois de “Let’s Stay Together”,
Al lança o seu 5º álbum, “I’m Still in Love with You”, no qual são poucos os temas
que não se tornam singles de sucesso. Nele encontramos “Love and Hapinness”, "I'm Still in
Love with You", "Simply
Beautiful" e "Look What You Done for Me".
É tão bonito este tema que parece que nunca nos vamos fartar dele (e eu não vou mesmo!). José James tem uma versão igualmente e ‘simplesmente
bonita’ desta canção.
Em 1973, “Call Me”, "Here I Am (Come and Take Me)", "Livin' for You"…
Em 1974, "Take Me to the River"…
São tantas as músicas que vos podia mostrar deste cantor… é um problema com que me deparo sempre que escrevo sobre algum master do soul… paradoxalmente, os posts
tornam-se curtos e intermináveis.
No decorrer dos anos 70, a religião ganha mais peso na vida e
na música de Al Green. Em 1976 compra uma igreja em Memphis e é nomeado pastor. O R&B é substituído em detrimento do gospel. “The Lord Will Make a
Way" foi o primeiro disco desta nova fase, editado em 1980. Na década de
80 Al apenas lançou álbuns deste género musical, dos quais 8 foram premiados com o Grammy de
"Melhor Performance Soul/Gospel".
Nos anos 90 o artista regressa lentamente ao R&B e em 2008, pela
mão da Blue Note, presenteia-nos com, o até à data último álbum, “Lay It Down”.
Além deste maravilhoso dueto com Anthony Hamilton, encontramos
também no disco as colaborações de John Legend e Corinne Bailey Rae. Um álbum
que, caso seja o último, fecha excepcionalmente a carreira do cantor, não fosse o
mesmo produzido por Ahmir "Questlove" Thompson (The Roots). O meu conselho: oiçam-no e deliciem-se!
Até ao próximo post soul lovers. Até lá, 'take your time' e inspirem-se! ;)
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