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Para o efeito, procurem-nos na vossa iTunes Store, pesquisando por Groove your soul ou seguindo este link
No telemóvel, caso utilizem a aplicação 'Podcast', poderão facilmente encontrá-los lá:
O Groove foi de férias na rádio mas continua atento à boa música, recolhendo o que de melhor se faz ouvir neste Verão para, em Setembro, regressar aos seus programas com mais alma que nunca!
São muitos e variados os sons que me têm refrescado nestes dias de calor, como tal, partilho convosco algumas sugestões de álbuns recentes e bem fresquinhos, ideais para vos acompanhar na praia, em casa ou no trabalho, enquanto o Groove não chega :)
Seguem elas e, não resisto em dizer, quentinhas e boas:
Jill Scott - "Woman"
É um dos álbuns mais aguardados do ano pelo que não poderia começar senão com ele. A grandiosa Jill Scott, finalmente, regressa aos discos, passados 4 anos desde o seu último trabalho, "The Light of The Sun".
"Woman" é o nome do seu novíssimo álbum, ainda está em escuta no Groove your Soul mas creio, contudo, ter compensado a espera! Na verdade é fácil contentarmo-nos com Jill Scott, o seu poderio é tanto e a sua voz é tão avassaladora que, embora não sendo um "Who Is Jill Scott?" (o seu brilhante primeiro álbum), preenche-nos perfeitamente a alma, conquistando-nos o coração.
Dezasseis temas e uma ou outra participação como BJ The Chicago Kid e 9th Wonder em "Beautiful Love", compõem um álbum onde o Neo Soul é rei e senhor. Durante toda uma hora podem encontrar um R&B sedutor, a garra do gospel, apontamentos de spoken word aqui e ali, e a alma gigante de Jill Scott, cuja voz arrebata tudo por onde passa.
Ideal para ouvir: a terminar um bom vinho depois do jantar, numa noite quente de Verão .
Miguel - "Wildheart"
Miguel, coração de leão, é que me apetece dizer depois de ouvir este seu tremendo terceiro disco - "Wildheart".
Este é, talvez, o álbum que mais me tem acompanhado nas últimas semanas e ao qual continuo completamente agarrada. Enquanto o artigo integral sobre este disco não sai, posso adiantar-vos, para já, que se trata de um trabalho extremamente bem conseguido desde a primeira até à última música!
Surgiu tímido este cantor no seu início de carreira, mas a verdade é que Miguel soube destacar-se e construir um cunho muito pessoal e sólido na sua música. R&B, guitarras rebeldes e algumas influências como as de Prince, continuam presentes na sua música, traduzindo-se num álbum de 16 temas perfeitamente encadeados de forma tóxica, sexual, corrosiva, carnal, erótica e saborosamente perigosa. Um romance arriscado que deve ser vivido sem moderação.
Ideal para ouvir: no carro, numa viagem sem destino ao pôr-do-sol.
Leon Bridges - "Coming Home"
Chegou há já algum tempo a casa, mas continua a saber incrivelmente bem ouvir este disco. "Coming Home" é o primeiro trabalho do texano Leon Bridges, que nos remete para um regresso às origens do soul, com a mesma doçura na voz com que em tempos cantava o seu apelidado pai - Sam Cooke.
Um disco actual mas que pretende reviver o passado. Um southern soul renovado que vem alegrar os nossos dias e perfumá-los com uma lufada de ar fresco.
Disco composto por 10 temas cheios de alma na voz intensa, ainda tenra, de Leon Bridges.
Ideal para ouvir: em qualquer regresso a casa.
The Internet - "Ego Death"
Confesso que fui positivamente surpreendida com este disco. Sabia da qualidade de The Internet, contudo, não fiquei tão rendida com os seus anteriores projectos como fiquei com este "Ego Death". Um trabalho cada vez mais consistente, encabeçado pela vocalista Syd Tha Kyd - produtora, cantora, DJ e detentora de uma voz irresistivelmente inebriante.
O disco é bem smooth, composto por 12 faixas que seguem a linha suave de soul/jazz/rnb a que The Internet nos tem habituado só que, ainda mais apurada. Participações são muitas e boas e todas a surfar na mesma onda - temos Janelle Monae, Vic Mensa, Kaytranada e Tyler, The Creator. Com este álbum não há desculpas para o calor!
Ideal para ouvir: a chillar sozinha na piscina ou com os amigos na praia.
Lianne La Havas - "Blood"
Foi uma das presenças este ano no EDP Cool Jazz e já conquistou um pequeno séquito de fieis seguidores que se apaixonaram por ela, pela sua música e pela sua voz.
Lianna La Havas é londrina, tem um look cool, fresco e descontraído e uma beleza singular. Contudo, o seu maior encanto reside na sua impressionante voz, que consegue deambular tranquilamente entre diferentes estados de espírito - ora doce, ora feroz, ora triste, ora alegre e enamorado - soando todos eles transparentes aos nossos ouvidos.
O seu segundo álbum, "Blood", saiu alguns dias depois da sua passagem por Portugal, é romântico, feminino, meigo e atrevido, em partes, introspectivo, para ser descoberto sem pressas.
Ideal para ouvir: No sofá, com chá ou limonada, nos dias em que faz vento para ir para a praia.
ASAP Rocky - "At Long Last ASAP"
Para os amantes do hip hop, aqui fica uma aposta - ASAP Rocky e o seu segundo disco, "At Long Last ASAP". À semelhança de outros da sua geração (falo de Kendrick Lamar, por exemplo), ASAP é uma jovem promessa apadrinhada por muitos que já reconheceram o seu valor.
Mais diluído com outras sonoridades como o gospel e o rock, o hip hop deste segundo disco é mais 'contemporâneo', se assim se pode dizer.
Um álbum denso, complexo, com dezoito temas e inúmeras colaborações, como é o caso de Joe Fox, M.I.A., Lil Wayne, Rod Stewart e Mos Def, entre outros, e as produções e também participações de Kanye West e Mark Ronson, uns padrinhos de luxo!
Tal como ASAP, o disco promete sem defraudar.
Ideal para ouvir: nos phones, no regresso à confusão da cidade.
E vocês, já escolheram o vosso disco para as férias?
José James é como o vinho do Porto, com o passar do tempo
está cada vez melhor. Talvez seja um bocado clichê começar desta forma o texto que descreve a passagem do cantor pela cidade invicta, no passado sábado. Mas na
verdade, de clichê este senhor não tem nada, senão a sua antítese.
Brindou-nos sim, com um concerto envolvente, sedutor, guloso e maduro, tal como se quer um vinho do Porto, e que eu sorvi até à última gota.
James pisa o palco da Casa da Música, no Porto, não de smoking como era esperado, mas de casaco de cabedal e
óculos escuros. Enganam-se aqueles que, tal como eu, pensaram que vinham para um
concerto sóbrio de jazz em homenagem à diva Billie Holiday. Não, não. Foi sim um concerto do inigualável José James, num tributo muito próprio, muito seu,
à sua querida mãe musical – Billie Holiday.
Antes de mais, apenas fazer uma ressalva ao maravilhoso auditório da Casa da Música, que eu ainda não
tinha tido o prazer de conhecer, e cuja acústica é tão nítida e limpa que até
irrita! Poderia ouvir-se um alfinete cair, tal como se ouvia perfeitamente a tensão das cordas do contrabaixo de Solomon Dorsey. Um extra, que só torna este
vinho ainda mais saboroso.
Mas prossigamos. José James entrou descontraído, e com todo o
seu swag dá inicio à sua ode a Billie Holiday. “Good Morning Heartache” foi o primeiro
tema da noite, o qual também abre o seu último álbum dedicado ao centenário da
cantora – “Yesterday I Had The Blues:The Music of Billie Holiday”. Cedo nos apresenta também a sua
banda, composta pelos seus novos músicos Takeshi Ohbayashi no piano/teclas e Ryan
Lee na bateria e o seu companheiro de longa data, reverendo Solomon
Dorsey no contrabaixo/baixo.
Como gosta José James de realçar e enaltecer a sua banda e
como eu adoro que ele o faça! Ao longo dos 4 concertos que já presenciei do cantor, é incansável e louvável o seu esforço em fazer notar a sua banda ao
invés de se fazer notar apenas a si. Esse é mais um dos segredos do seu
sucesso - a humildade e cumplicidade que mantém em palco com os seus músicos, e que se traduz na qualidade do seu trabalho.
“Body and Soul” é a canção que se segue. Ainda só estamos no
segundo tema mas é mais do que suficiente para perceber o brilhantismo e a mestria com que José James pega carinhosa e educadamente nas músicas de Billie
Holiday e as converte em suas. É impressionante como a sua música já tem uma
marca, um cunho tão pessoal, que ao ouvirmos aquela interpretação poderíamos dizer:
“Isto é Bilie Holiday!" ou "Não, não, isto é José James!”.
Pois é… é talento,
respeito, trabalho e também amor, o que o cantor deposita em cada um destes
temas, como forma de agradecimento a uma figura que, como o mesmo diz, o
inspirou, ensinou e tanto lhe deu ao longo da sua jornada musical.
Sempre a interagir com o público, James estava calmo e sereno,
descontraído como se estivesse em casa e não na Casa da Música. Foi esse o
sentimento que nos quis transmitir, bem como o de felicidade e gratidão
por poder regressar passados 8 anos de pisar pela primeira vez aquele palco, desta vez a solo, com a sua banda.
Com “Fine and Mellow” e “Tenderly”, José James prossegue com
a sua banda ao ritmo do jazz mas com um groove único que faz o seu corpo
balançar e as suas mãos deambular, como se de outros beats se tratassem. Quem visse e não ouvisse, diria que era hip hop e não jazz o que se tocava hoje ali.
Continuamos e chegamos ao momento em que as minhas suspeitas se confirmam! A viola e o baixo que discretamente aguardavam pela sua vez no palco, entraram
em cena! James percorre alguns dos temas dos seus anteriores trabalhos, para
grande alegria dos inúmeros fãs que lá se encontravam. “Come To My Door”, “Simply
Beautiful”, “Trouble” e “Park Bench People” foram interpretados por José James, numa versão de José James. E sabem porque digo isto? Porque é assim que os
grandes artistas interpretam os seus temas nos seus concertos: de forma diferente
àquela que nos habituaram quando os gravaram em estúdio, com toda uma variedade de arranjos, particularidades
e combinações apenas possíveis quando tocados e sentidos ao vivo. É essa a ‘blackmagic’
que José James faz nos seus concertos.
Aproximamo-nos do final mas ainda há tempo para homenagear também a costela soul do
cantor – o espírito de Bill Withers é invocado num pequeno medley ao som de “Who
Is He (and What Is He To You)”, ”Ain’t No Sunshine” e ”Grandma’s Hands”.
Satisfeitos, com “God Bless The Child” regressamos a Billie
Holiday, figura central desta noite a quem o cantor não se cansa de enaltecer,
realçando o contributo pioneiro e imprescindível da cantora no mundo da música,
em detrimento do lado dramático da sua vida que uma sociedade sexista prefere destacar.
A quem também não são poupados elogios é à sua banda, cujo
esforço para o acompanhar nesta digressão é de valor, na qual praticamente,
diariamente, se encontram em viagem. Eu bem os acompanho também nas redes
sociais e, efectivamente, é de louvar as horas de sono perdidas, o cansaço e os quilómetros
palmilhados e, ainda assim, nos presentearem com uma performance daquelas. Palmas,
muitas palmas e uma Casa da Música inteira de pé para agradecer o maravilhoso espectáculo proporcionado naquela noite.
José James regressa sozinho para o desejado encore, deixando-se acompanhar
apenas pela sua viola. Fazendo jus à coincidência do dia (4 de Julho, dia da independência nos Estados Unidos, um dos feriados mais importantes e emblemáticos do seu país),
é com tristeza e sem patriotismo que o cantor partilha connosco a desolação de
não se identificar com o país que o viu nascer, face aos últimos acontecimentos
de violência e racismo que o têm assolado.
Como há 50 anos, a música
continua a ser uma forma de expressão livre e as vozes que se fazem ouvir a arma com que lutar. Assim,
tal como em 1964 a esperança por um mundo melhor foi entoada por Sam Cooke,
pai da música soul, em “A Change Is Gonna Come”, também no passado sábado José James o fez, numa bonita e sentida interpretação, evidenciando (não pelos
melhores motivos) a intemporalidade desta canção.
Por fim, se ainda não falei da técnica neste concerto é
porque dou por certo que já perceberam que a mesma foi irrepreensível. Seja a
solo, seja em grupo, todos e cada um dos instrumentos não desafinaram uma nota,
numa coordenação milimétrica. O instrumento, contudo, destacado para o derradeiro final
foi a incrível e elástica voz de José James. Camadas e camadas da sua própria
voz foram o suficiente para, sozinho, construir com subtileza a música com mais
carga emotiva de toda a noite – “Strange Fruit”. O respeito e admiração
fizeram-se sentir pelo silêncio rigoroso dos que, fascinados, admiravam a sua
arte, apenas quebrado pela ovação de palmas que viria a seguir, em agradecimento ao bonito e caloroso concerto que durante pouco mais de duas
horas nos fez sorrir.
Sim, José James é como o vinho do Porto, está cada vez melhor,
mais maduro e seguro de si e quem prova só pensa numa coisa: repetir.
Alinhamento:
01. Good Morning Heartache 02. Body and Soul 03. Fine and Mellow 04. Tenderly 05. Come To My Door 06. Simply Beautiful 07. Trouble 08. Bill Withers medley 09. Park Bench People 10. God Bless The Child 11. A Change Is Gonna Come 12. Strange Fruit