Foram loucos e cheios de música (tal como eu gosto) os meus
últimos dias!
Passadas duas semanas de agitação, nas quais tive direito a
festa, calor, frio e muitos e variados ritmos que me animaram a vida, posso finalmente acalmar-me, sentar-me em frente ao computador e contar-vos como foi.
Justin Timberlake @Rock in Rio Lisboa (01.06.2014)
No dia que encerrou mais uma edição do grandioso RIR
Lisboa, não apanhei filas nem confusão para entrar no recinto, pois já passava das 22h quando entrei e
a Jessie J já cantava e encantava no local (bom concerto, por sinal!). Digo grandioso
pois, de facto, é gigantesco todo o aparato montado à volta deste festival,
bem como a afluência de pessoas ao parque da bela vista. Contudo, não consigo ter uma opinião definida relativamente ao mesmo uma vez que, antes deste domingo, só lá tinha ido noutro, em 2012, para o concerto do grandioso (esse sim) Stevie Wonder.
Pois bem, entrei já tarde e cansada, no culminar de um longo e agitado fim-de-semana, na expectativa que o Sr. Justin
Timberlake, ou melhor, Justino, como alguns gostam de o chamar (incluída uma
boa amiga minha), compensasse e mitigasse todo o meu desejo contrariado de me
atirar para o sofá.
Pois bem, a verdade é que ele assim o fez!
Com todo o charme do mundo que lhe cabe neste seu novo “fato”,
Justin pisa pela primeira vez um palco nacional ao som da doce “Pusher Love
Girl” (canção que abre também o seu último álbum), para de seguida nos deixar não
só rendidas, como rendidos, ao talento enquanto interprete e bailarino excepcional que é, com temas como “Rock Your Body”, “Like I Love You” ou “My Love” - confirma-se, estamos na presença de um verdadeiro onemanshow!
“Vieram todos para a festa, não foi?”, pergunta-nos dono e
senhor de si, o nosso anfitrião.
Foi Justin, e não podíamos ter um melhor entertainer que tu! Nessa altura eu já
nem sabia o que era o cansaço! Dancei a noite toda ao sabor e ao groove de mister JT. Além da sensual “Señorita”, adoro os toques de hip
hop subtis que Timbaland vai deixando nos seus temas, como em “TKO” ou “Cry Me
a River” e no final inesperado de “What Goes Around… Comes Around”,
interpretada inicialmente numa terna versão acústica com JT na viola.
Mas se pensam que por Justin ser o homem pop do momento este
foi um concerto meramente pop, enganam-se! Tivemos pop sim, e algum hip hop
também (no excerto de Holy Grail faltou Jay-Z fazer a segunda aparição do ano
no nosso país), mas também sentimos a presença do soul de Stevie
Wonder (não fosse a banda que o acompanha os Tennessee Kids), o blues de Elvis
Presley com “Heartbreak Hotel” e a alma e a voz de Michael Jackson nos temas
“Shake Your Body” e “Human Nature”.
Sem desafinar uma
nota, o cantor percorre o concerto de uma ponta à outra numa performance exímia, fazendo “check!” a
todos os temas que nós queríamos ouvir, onde não pôde faltar o sexy “Sexyback”.
Para rematar, a sua canção-estrela do momento, “Mirrors”, perfeita para nos despedirmos
dele num bonito coro, na esperança de que a recepção tenha sido tão boa, que o faça regressar brevemente!
Cheguei a casa estoirada, mas tão feliz...
NOS Primavera
Sound – 5, 6 e 7 de Junho 2014
Rumei ao Porto na passada quinta-feira com dois objectivos
bem claros na minha cabeça: Kendrick Lamar e Charles Bradley!
Um é para mim a revelação/promessa do hip hop actual, o
outro é a consagração merecida de uma vida dedicada à música, representando a
par de outros nomes como Sharon Jones e Lee Fields, a essência mais pura do
soul que se faz actualmente.
Nenhum dos dois defraudou as minhas expectativas!
Kendrick Lamar
Na primeira noite, antes de receber o jovem rapper californiano, ainda tive o
prazer de ouvir o veterano, Caetano.
Ainda que fora do seu registo habitual,
numa onda mais rockeira e reivindicativa à semelhança do seu último trabalho, sabe
sempre bem ver e ouvir esta lenda viva brasileira. Pouco interactivo, contudo. É
o único senão que lhe tenho a apontar.
Mas vamos ao que interessa, Kendrick Lamar entrou em ‘NOS’
cheio de garra e com um sonho: “Martin had a dream… Kendrick have a dream… all
my life I want money and power…“ e foi mesmo ao som de “Backseat Freestyle” que
virámos do avesso este festival! Kendrick entra em palco com todo o seu flow e assinala a sua estreia em Portugal com um concerto irrepreensível, marcado pela lírica
das suas rimas, grande parte autobiográficas, pautando também alguns momentos intimistas
ao longo do concerto.
Com o seu primeiro e único álbum em destaque, “good kid, m.A.A.d city” (2012), deu para saborearmos cada um dos seus temas principais. Com a
mão bem no alto, a casa foi abaixo ao som de “Swimming Pool (Drank)”, “Bitch,
Don’t Kill My Vibe”, “Money Trees” e “Poetic Justice”. Assim, sempre cool
e a puxar pelo seu público, Kendrick sentiu-se em casa e não poupou comparações
entre o Porto e a sua cidade natal, Compton, afirmando que em ambos os sítios all
I smell is weed in the motherfucking air!. Pois, este foi, de facto, um ambiente
diferente e bom o que se 'respirou' neste festival.
Para o final, “The Recipe”, em que só faltou o seu mentor, Dr.
Dre, deixando-me um aperto bem grande no peito em forma de “JÁ??!”… Foi curto este
concerto, muito curto para o bom momento que se estava a viver. Era muito fácil
e desejado pelos inúmeros fãs que lá estavam, ficar a curtir o bounce e
as rimas de Kendrick pela noite dentro.
Charles Bradley
Ok, para quem não sabe a história de vida deste senhor, por
favor, investigue. Pois ao ouvirem todas e cada uma das suas músicas terão ainda mais… alma.
A mesma não foi fácil. Tanto que o primeiro disco deste
cantor de soul genuíno, “No Time For Dreaming” (2011), foi apenas editado aos
seus 62 anos. Um justo e tardio reconhecimento que se prolongou com o seu
segundo álbum, “Victim of Love” (2013), e com as suas digressões pelo mundo
que, felizmente, o trouxeram também a Portugal.
De voz rouca e profunda, o cantor arrepia-nos e encanta-nos
com a sua música e o seu amor, alastrando toda a sua magia em redor do palco
secundário, ATP, que naquela noite ganhou uma luz própria.
“How Long”, “The World”, “Lovin’ You, Baby”, “Confusion”, “All
I'm Asking”, “You Put the Flame On It”, “Why Is It So Hard?” foram alguns dos
temas interpretados pelo cantor, muito bem acompanhado pela sua banda, The Menahan Street Band, que na última noite do festival, ao ritmo do seu doce soul, deixaram-nos ainda mais… apaixonados.
E se Kendrick me põe a dançar de mão no ar a noite toda,
Bradley consegue realmente tocar-me no coração. O melhor dos dois mundos num festival ao qual devo apontar uma nota muito positiva: boa organização, bom ambiente e bom cartaz, variado e apurado, com nomes que não procuram somente massas mas também curiosos, eclécticos, apaixonados. Em suma, foi tudo bom à excepção do tempo, mas pronto, esse compensa-se com boa música! ;)