Let’s go down?
Bora! Pois hoje é o hip hop que está na casa!!!
Já há algum tempo que tenciono escrever
sobre este rapper californiano, que me tem vindo a conquistar aos poucos com a sua música, pelo que não vou adiar mais, hoje chegou o seu dia!
O hip hop não é tão falado neste blogue,
onde o soul ocupa um lugar privilegiado e, logo a seguir, vem o seu amigo, R&B.
Contudo, é um estilo de música que eu também aprecio bastante. Gosto das suas
batidas, da vontade de dançar que elas me provocam, da força das suas músicas, das suas letras e gosto particularmente quando o hip hop se mistura com samples de músicas soul e funk antigas, tornando alguns temas deliciosos.
Assim sendo, porque não escrevo mais sobre hip hop? Bem, a verdade é que embora oiça
bastante e tenha os meus cantores/grupos predilectos, não são muitos os álbuns
de hip hop que me conquistam facilmente, tal como aconteceu, precisamente,
quando ouvi Kendrick Lamar e o seu mais recente “good kid, m.A.A.d. city”.
Kendrick tem apenas 25 anos, mas o seu
talento já foi reconhecido no universo do hip hop, valendo-lhe a oportunidade
de trabalhar com artistas conceituados como Drake, Busta Rhymes, Talib Kweli ou
o legendário Dr. Dre. A título individual, começou por lançar mixtapes e assim
despertar a atenção dos entendidos na matéria. Em 2011 lança o seu primeiro álbum, “Section.80”, de forma independente e
exclusiva através do Itunes, tornando-se num dos álbuns digitais mais procurado
do ano. Mas é com “good kid, m.A.A.d. city”, lançado no final de 2012,
que Lamar atinge o maior sucesso e o merecido reconhecimento da crítica.
Este álbum é um regresso às suas origens e não poderia ser mais autobiográfico. A começar pela capa do disco, que
corresponde a Lamar em criança, com a sua família, reunidos à mesa. Uma foto Polaroid
antiga do artista, tão pessoal que quase nos faz sentir invasivos por olhar. Um
“good kid” numa “mad city” (Compton, Califórnia). Um álbum agridoce, no qual o rapper partilha connosco a sua história, contando-nos o lado bom e o mau de
crescer numa realidade difícil como a de Compton. Inspirado no rap dos anos 80
e 90, este disco revela-nos a maturidade de um jovem cantor, tendo como tema base nas suas canções a importância da família.
E é precisamente em família que este
álbum começa, sentados à mesa e dando graças a Deus. Aqui começa a história. De
seguida, ouvimos “Sherane a.k.a. Master Splinter’s Daughter” - o tema que abre o álbum e que nos remete para
a adolescência do cantor e para o ênfase natural que a sexualidade lhe despertava
na altura. Nesta música Kendrick assume o papel de storyteller - seventeen with nothing but pussy stuck on my mental - era desta forma que Lamar se dirigia à casa de Sherane, ao volante da van
da sua mãe, que lhe telefona insistentemente pedindo-lhe para devolver o
carro.
“Bitch, Don't Kill My Vibe” é um dos meus
temas preferidos do álbum. Adoro a sua batida. Kendrick relata-nos como o sucesso e o fazer parte
desta grande indústria musical nem sempre são interpretados da melhor forma por
algumas pessoas - I can feel the changes/
I can feel the new people around me, just want to be famous/ You can see that
my city found me and then put me on stages/ To me that's amazing/ To you that's
a quick check/ With all disrespect let me say this.
I am a sinner
Who's probably gonna sin again
Lord forgive me, Lord forgive me
Things I don't understand
Sometimes I need to be alone
Bitch don't kill my vibe, Bitch don't kill my vibe
I can feel your energy from two planets away
I got my drink I got my music I will share it but today I'm yelling
Who's probably gonna sin again
Lord forgive me, Lord forgive me
Things I don't understand
Sometimes I need to be alone
Bitch don't kill my vibe, Bitch don't kill my vibe
I can feel your energy from two planets away
I got my drink I got my music I will share it but today I'm yelling
Em “Backseat Freestyle” este gangsta
volta a surpreender-nos com um beat poderoso, levando-nos aos primeiros versos
com os quais em jovem começou a "rapar". Continuamos a percorrer a sua juventude e em "The
Art of Peer Pressure" são partilhados episódios em Compton com os seus amigos, os quais nem sempre se revelavam a melhor
companhia - I never was a gang banger, I
mean I never was stranger to the funk neither/ I really doubt it/ Rush a ni**a
quick and then we'd laugh about it/ That's ironic cause I've never been
violent/ Until I'm with the homies.
"Money
Trees" conta com a colaboração do rapper,
seu amigo, Jay Rock e, tal como o nome indica, fala-nos de dinheiro e da sua relação
com o mesmo. Já “Poetic Justice” fala-nos de puro e sensual, amor. Esta canção
tem como fundo o sample de Janet
Jackson (“Any Time, Any Place”), que a torna extremamente suave e envolvente.
Provavelmente alguma "Sherane" também o inspirou de forma mais profunda para
este tema, numa altura mais madura da sua vida. Drake é quem o acompanha desta vez. Esta sim, é a minha preferida.
I recognize your fragrance
You ain't never gotta say shit
And I know your taste is
A little bit (mmm) high maintenance
Everybody else basic
You live life on an everyday basis
With poetic justice, poetic justice
You ain't never gotta say shit
And I know your taste is
A little bit (mmm) high maintenance
Everybody else basic
You live life on an everyday basis
With poetic justice, poetic justice
Os dois temas que se seguem reflectem
bem a dicotomia do álbum: "good kid" – o miúdo bom que se vê envolto
pelas malhas do crime e não sabe como escapar; "m.A.A.d city" – a corrupção
e a violência que habitam na sua cidade e que lhe é desfavorável - I live inside the belly of the rough/
Compton, U.S.A./Made me an Angel on Angel Dust. E continuamos no lado negro da
cidade com Lamar e os seus "homies",
numa luta interna com a sua consciência em "Swimming Pools
(Drank)".
“Sing About Me, I'm Dying of Thirst" - o mais importante não é onde se chega, mas sim o percurso. Kendrick sabe disso e pede para que cantem sobre ele, quando já cá não estiver.
Aproximamo-nos do final do álbum e chegamos a “Real”, uma vitória
espiritual aqui representada, face todas as dificuldades enfrentadas e
retratadas no álbum. No fim, a
importância da família mais uma vez evidenciada, com as vozes dos seus pais
fechando o tema:
Any nigga can kill a man/ that don't make you a real nigga/ real is responsibility/ real is taking care of your motherfucking family – diz-lhe o seu pai;
If I don't hear from you by tomorrow, I hope you come back and learn from your mistakes. Come back a man... Tell your story to these black and brown kids in Compton... When you do make it, give back with your words of encouragement. And that's the best way to give back to your city. And I love you, Kendrick. – diz-lhe a sua mãe.
Any nigga can kill a man/ that don't make you a real nigga/ real is responsibility/ real is taking care of your motherfucking family – diz-lhe o seu pai;
If I don't hear from you by tomorrow, I hope you come back and learn from your mistakes. Come back a man... Tell your story to these black and brown kids in Compton... When you do make it, give back with your words of encouragement. And that's the best way to give back to your city. And I love you, Kendrick. – diz-lhe a sua mãe.
Para fechar, Kendrick ouve o conselho da sua mãe e faz uma Ode à cidade
que o viu nascer, ao lado do seu mentor, Dr. Dre, que lhe passou o testemunho.
O
álbum contém ainda três bonus tracks,
um dos quais o tema que abriu este post
– “The Recipe” – o seu primeiro single
e que conta, mais uma vez, com a colaboração de Dr. Dre.
À
semelhança de Frank Ocean, Lamar conta-nos histórias, mais propriamente a sua
história, o que nos revela para além do seu talento, a sua maturidade
artística. De realçar ainda, os produtores de luxo deste álbum - Dr. Dre, Pharrell Williams e Scoop DeVille, entre outros.
Da
minha parte, fico muito feliz por saber que este “good kid” não se perdeu na
sua cidade e por ver como conseguiu retirar as lições positivas da sua história de vida
e poder ensiná-las aos restantes “good kids” que andam por aí. A música é de
facto uma bênção.
Good kid, Kendrick, good kid!