Normalmente, tenho por hábito pesquisar sobre músicos de soul que vingaram no passado, nos anos 60 e 70 e que, maioritariamente, já não se encontram entre nós. Começo pelos seus primeiros trabalhos, os que os tornaram famosos, até aos mais recentes.
Desta vez, aconteceu-me o contrário.
Conheci Bobby Womack aos seus 68 anos e com o seu 27º álbum lançado no corrente ano de 2012 - “The Bravest Man in The Universe”.
É claro que após ouvir o seu primeiro single "Please Forgive My Heart”, fui LOGO investigar TUDO acerca deste Senhor!
"The Bravest Man in The Universe" constitui um regresso, em grande, deste lendário cantor de soul.
Tenho um respeito e admiração enorme por artistas que, como ele, adaptam a sua música ao tempo real em que vivemos, dando-lhe uma nova 'roupagem' de acordo com as tendências actuais do mundo da música e, ainda assim, mantêm a sua essência e identidade constante. É preciso coragem e, acima de tudo, inteligência para fazê-lo com êxito.
Foi talvez por isso que Bobby rodeou-se das pessoas certas para ajudarem-no a concretizar este desafio. Falo de Demon Albarn (dos Blur e Gorillaz) e Richard Russell (da editora Britânica XL Recordings) - os produtores deste álbum.
A combinação funcionou bem. De um lado temos a voz de Womack, grave, carregada, representante de um soul do passado, do outro temos os beats electrónicos de Demon e Russell, representantes do mundo frenético em que vivemos. O antigo e o moderno fundem-se.
Para mim, este álbum primeiro estranha-se, depois entranha-se.
É considerado também como um álbum introspectivo de Bobby Womack. A sua primeira música, a que lhe dá o nome, retrata bem isso…
“The Bravest man in the universe,
Is the one who has forgiven first,
I got a story I want to tell
Gather round me
Gather round me boys and girls
I once was lost
But now I’m found
When I beer up so high
I always know how to come down…”
Do álbum, destaco também “Deep River” - talvez a música que mais o aproxima às suas raízes; “Stupid” - com a introdução de Gil Scott-Heron e "Dayglo Reflection" - um dueto com Lana Del Rey, considerada por muitos a relevação da música Indie Pop do momento.
Posso dizer que gostei deste novo Bobby Womack, mas confesso que adorei descobrir o antigo... é que o soul, na sua essência mais pura, continua a ser o que verdadeiramente me apaixona.
Foi por isso um prazer conhecer alguns dos seus primeiros álbuns como “Communication” (1971) e“Understanding” (1972) e até mesmo a banda sonora que produziu para o filme "Across 110th Street" (1972), cujo single pode ser também ouvido no clássico de Quentin Tarantino,“Jackie Brown”, ou em “American Gangster” de Ridley Scott.
Nascido em Clevland (EUA), este cantor, músico e compositor, iniciou a sua carreira como guitarrista, formando um grupo com os seus irmãos - “The Womack Brothers”, que mais tarde seria descoberto por Sam Cooke, lançando-os como “The Valentinos”. Posteriormente, foi também o guitarrista de Aretha Franklin na gravação de alguns dos seus álbuns e escreveu músicas para Wilson Pickett, o que lhe valeu também o reconhecimento como compositor.
O seus primeiros trabalhos a solo surgem no final da década de 60, pela editora Minit, mas é em 1971, após assinar com a editora United Artists, que Bobby atinge o seu primeiro grande hit – “That's the Way I Feel About Cha” (do álbum “Communication”) que, por acaso, é também o meu tema preferido deste cantor.
Destaco também os temas "Woman's Gotta Have It", "Lookin' For a Love", "Harry Hippie", "If You Don't Want My Love", o cover de "California Dreamin" (original de The Mamas & The Papas) e este bonito tema que me encantou desde o primeiro segundo em que o ouvi tocar no meu gira-discos – "Close To You".
Espero que tenham gostado e, se foi o caso, que tenham tido tanto prazer como eu em descobri-lo.